Os experimentos da Dupla Fenda, da Escolha Retardada e suas variações demonstram, em grande parte, o quão
distante do senso comum são os fenômenos sob exclusivo domínio de estudo da
mecânica quântica.
Existem várias
interpretações da teoria quântica. Uma interpretação é caracterizada por um
conjunto concepções idealizadas que são somadas ao formalismo mínimo de uma
teoria, sem que o primeiro conjunto acrescente quaisquer previsões
observacionais da teoria [1].
Discussões a respeito de como interpretar a
mecânica quântica surgiram tão logo esta teoria foi formulada, a partir de
junho de 1925. De um lado, os alemães Werner Heisenberg (1901-1976), Max Born
(1882-1970) e Pascual Jordan (1902-1980) desenvolveram a mecânica “matricial”,
que utilizava matrizes para calcular as probabilidades de se obterem diferentes
valores quantizados (discretos) das grandezas observáveis em experimentos atômicos.
Alguns meses depois, o austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961) formulou a mecânica
“ondulatória”, baseada na ideia do francês Louis de Broglie (1892-1987) de que toda
partícula é ao mesmo tempo onda. Schrödinger buscou interpretar seu formalismo,
que em pouco tempo se mostrou ser equivalente à mecânica matricial, defendendo
a hipótese de que na realidade os elétrons em um átomo formam uma onda na qual
se distribui uniformemente a carga elétrica. De acordo com sua interpretação
ondulatória, o mundo flui continuamente como uma onda, refletindo a função ψ(r) que aparece em sua versão da
teoria.
Já de Broglie interpretava a nova mecânica
quântica de maneira dualista: um elétron no átomo seria uma partícula de
posição e velocidade bem definidas, a cada instante, mas também haveria uma
onda associada, semelhante à concebida por Schrödinger.
As interpretações de Schrödinger e de Broglie
podem ser consideradas “realistas”,
pois segundo eles a teoria quântica representa a realidade de maneira definida
a todo instante, mesmo quando não há
ninguém fazendo observações ou medições. Isso se opõe à concepção “positivista”
(também chamada “descritivista” ou “instrumentalista”), que salienta que a
tarefa da ciência é descrever de
maneira econômica (através de leis) aquilo
que é observável, permitindo assim que se façam previsões de resultados em
novos experimentos, e que não faz sentido lançar hipóteses a respeito de uma
realidade não observável. Nessa época, Heisenberg
e seu colega Wolfgang Pauli
(1900-1958) defendiam explicitamente uma abordagem positivista, e a ideia
seminal de Heisenberg, que lançou a mecânica matricial, baseava-se apenas em
grandezas atômicas que eram diretamente observáveis, não a posição ou
velocidade de um elétron em um átomo, mas a intensidade da luz emitida pelo
átomo, sua frequência e sua polarização. Em outubro de 1927, o dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), famoso por ter
desenvolvido em 1914 um modelo atômico dentro da velha teoria quântica,
apresentou uma interpretação bastante elaborada e consistente, de cunho positivista, que fez
frente às propostas de Schrödinger e de
Broglie, e acabou se tornando a interpretação
ortodoxa da mecânica quântica, obtendo as adesões de Heisenberg, Pauli,
Born e da maioria dos físicos. O
conceito central de sua interpretação era a “complementaridade”. [1]
O que motiva as
várias interpretações? Você pode recorrer ao meu texto sobre este assunto e ver, por meio de
um exemplo, o quanto e diferente a real natureza de se usar a estatística para
descrever um sorteio de loteria, ou a probabilidade de um dado fornecer determinado número, em relação ao que parte dos físicos consideram em relação aos fenômenos
estudados pela mecânica quântica: a evolução do comportamento (como o
deslocamento de uma partícula, por exemplo) é descrita apenas em termos
probabilísticos (função de onda) e, ao se efetivar uma medição (a posição de
uma partícula, por exemplo), uma observação, tem-se 100% de certeza estatística
de um dos resultados previsto. Daí surge hipóteses como: a função de onda
descreve uma onda física real? O que a teoria quântica dispõe é “fisicamente
fechada” (a descrição é completa ou existem variáveis desconhecidas)? Os
estados anteriores (as características assumidas em tempos anteriores a
medição) definem completamente o que será medido? O se efetivar uma medição,
acontece uma redução à zero na onda probabilística de todos os valores
potencialmente considerados como resultados na medição, exceto aquele que é
medido (ocorre o colapso da função de onda), ou o fenômeno ondulatório
permanece com sua distribuição estatística nos moldes idênticos a fração de
tempo anterior à medição?
Vale ressaltar o
significado de colapso da função de onda.
De acordo com a mecânica quântica ortodoxa,
quando procedemos a uma medição e
encontramos uma partícula em determinado lugar, provocamos uma medição e
encontramos uma partícula em determinado lugar, provocando uma alteração na sua
onda de probabilidade: a gama anterior de resultados potenciais reduz-se a um:
o resultado obtido pela medição (...). Os físicos dizem que a medição provoca o
colapso da onda de probabilidade e acrescentam que quanto maior for a onda de
probabilidade original em determinado lugar, maios será a chance de que o
colapso da onda se dê naquele ponto(...) no momento em que você encontra a
partícula em um lugar, diz esse raciocino, a probabilidade de que ela possa ser
encontrada em qualquer outro lugar cai imediatamente a zero, e isso é o que
está refletindo no colapso da onda de probabilidade. [2]
Essa concepção leva a
nos perguntarmos o que ocorre, no momento da medição, que leva ao colapso
descrito. O que realmente acontece a nível subatômico? A resposta a esse
enigma, se passível de comprovação experimental, pode levar a uma unificação,
ou algo próximo disso, em relação às interpretações da mecânica quântica.
De forma um tanto quanto mais técnica, o físico Osvaldo Pessoa Jr comenta um importante ponto sobre o colapso da função de onda.
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De forma um tanto quanto mais técnica, o físico Osvaldo Pessoa Jr comenta um importante ponto sobre o colapso da função de onda.
Se não há causa para o resultado
das medições, então este deve ser um processo genuinamente aleatório, violando
o princípio de razão suficiente de Leibnitz. A conclusão é que o colapso é um processo
indeterminista. Notem, porém, que esta conclusão é independente da tese positivista,
difundida por alguns defensores da interpretação ortodoxa a partir da década de 1920, segundo
a qual o mundo quântico seria indeterminista, já que não há maneira de prever com exatidão o
resultado de experimentos quânticos. [3]
Na física, diz-se que
um evento é determinista quando uma medição é definida por valores das
grandezas físicas que antecedem a medição (como a posição de um veículo é
definida pela posição anterior e a trajetória feita – velocidade, aceleração,
direções, etc). Se isso não acontece, diz-se que o evento é indeterminista. Com
efeito, infere-se que há físicos que entendem que a medição de uma partícula
tem o valor de sua posição (spin, quantidade de movimento, etc) assumido na
medição, ou seja: os valores medidos tem uma natureza aleatória, nesta contexto.
[1] Pessoa Jr, Osvaldo: As interpretações contemporâneas da mecânica quântica, Departamento de
Filosofia, FFLCH - Universidade de São Paulo, CBPF-CS-005/08.
[2] Greene, Brian: O tecido do cosmo – O espaço, o tempo e a
textura da realidade, Companhia das Letras.
[3] Pessoa Jr, Osvaldo: Conceitos e Interpretações da Mecânica Quântica: o Teorema de Bell, Departamento de Filosofia, FFLCH - Universidade de São Paulo, WECIQ 2006 - Mini-curso 1.
[3] Pessoa Jr, Osvaldo: Conceitos e Interpretações da Mecânica Quântica: o Teorema de Bell, Departamento de Filosofia, FFLCH - Universidade de São Paulo, WECIQ 2006 - Mini-curso 1.
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