Introdução
Imagine que temos um dado,
em perfeito equilíbrio, de seis faces numeradas de 1 a 6. Nestas condições, é
fácil perceber que, para obter um dos seis números em um lançamento do dado, as
chances são de uma em seis, ou seja, de 1/6 ou, aproximadamente, 16,7%.
Agora admita que vou
manipular as chances nos lançamentos, “viciando” o dado (deixando-o
desiquilibrado).
Minha primeira manipulação é
dobrar as chances de obter o número 5 em relação aos demais. Assim, em sete lançamentos, espera-se obter
1/7 (cerca de 14,3%) de chance para cada número diferente de 5 e, para este,
2/7 (cerca de 28,6%), ou seja, o dobro dos demais.
Minha segunda manipulação é fazer
o número 6 ser obtido o dobro de vezes (em média) que o número 5. Isso equivale
a direcionar os lançamentos de forma que (em média), em dez jogadas, os números
de 1 a 4 saiam uma vez, o 5 saia duas vezes e o 6 saia quatro vezes. Tem-se,
assim, chances de: 10% para os números de 1 a 4, 20% para o 5 e 40% para o 6.
De forma genérica, pode-se
dizer que a densidade de probabilidade de se obter o número 6, com o dado
viciado, é maior do que obter o cinco. De forma análoga, a densidade de
probabilidade de se obter os números de 1 a 4 é menor do que os outros dois
valores.
Digamos que vc esteja
vendado enquanto o dado é lançado. Você pode ouvi-lo quicar na mesa, mas não imagina
o valor que ele exibirá ao final do movimento. De certa forma, é como imaginar
que todas as probabilidades de quaisquer das faces aparecerem corressem (ao
menos em sua mente) paralelamente. Ao remover a venda, observando o dado, verá
que todas as probabilidades das cinco faces “perdedoras” são, agora, de 0% e a
face exibida, a “vencedora”, é 100%.
É claro que um observador desvendado
verificou que o dado fez uma determinada trajetória que resultou na face
vencedora. Se pudéssemos equacionar todos os fatores e variáveis que
influenciam no lançamento e trajetória, poderíamos, teoricamente, calcular qual
seria o número que o dado apresentaria ao fim do seu movimento. O tratamento
estatístico, neste caso, é meramente devido às dificuldades práticas de
equacionamento e cálculo. Neste caso, não é razoável ao senso comum supor que o
dado faria, simultaneamente, todas as trajetórias possíveis e, após olharmos,
somente uma seria efetivamente observada.
Contudo, na mecânica
quântica, o comportamento é perturbador ao senso comum.
A partir do princípio da incerteza (W Heisenberg, 1927),
verifica-se que não podemos medir posição e velocidade (na verdade, quantidade
de movimento) com precisão absoluta, simultaneamente, para a mesma partícula em
dado momento. A medição dessas grandezas é que permiti se estabelecer uma
trajetória (como vemos o dado fazer).
Contudo, surge, aqui, uma
discussão: é meramente uma barreira teórica e tecnológica, ou se, de fato, é um
comportamento da natureza.
Medição e incerteza
Para se calcular um
resultado na mecânica quântica, em dados experimentos, utiliza-se a equação
de Schrödinger. Ela
nos permite quantificar a densidade de probabilidade das medições possíveis de
serem obtidas, dando resultados, grosso modo, como as densidades de probabilidade
de se obterem os números de 1 a 6 ao se lançar o dado. Só que, aqui, o
lançamento do dado é sempre feito com o observador (o pesquisador) de “olhos
vendados”: por se tratar de elementos muito pequenos, em geral bem abaixo da
escala atômica, não os podemos ver, só calcular a probabilidade dos resultados.
Mas, e se pudéssemos “ver”?
De acordo com a interpretação
da mecânica quântica utilizada, pode-se defender que: a impossibilidade de
determinar, por exemplo, a trajetória de um elétron é um comportamento inerente
da matéria (ou seja, todas as trajetórias possíveis ocorrem simultaneamente,
chamado de superposição [1]); ou, ainda, argumentar que se trata de mera limitação
técnica.
Que há uma onda
probabilística associada à medição, de uma forma direta ou não, não há dúvida.
Essa certeza se origina empiricamente, como, por exemplo, o experimento da
dupla fenda (animação).
Esta experiência ilustra o
comportamento dual, partícula-onda, que ocorre com elementos sujeitos aos
efeitos verificados no nível da mecânica quântica, chamados aqui de objetos
quântico. Tais comportamentos específicos não são desconhecidos no “mundo
clássico”.
Mas a equação de Schrödinger
é mera descrição matemática ou é, de alguma forma, a descrição da realidade?
Vejamos as interpretações dos físicos.
1.
Interpretação
Ondulatória (segundo a ideia de Erwin Schrödinger:
objetos quânticos são, na realidade ondas, aproximando da visão de John von
Neumann). Antes da detecção, o objeto quântico se desloca como onda, permitindo
uma localização, com maior ou menor precisão, ao ser detectado, um comportamento
de partícula, portanto. Assim, no deslocamento, tem-se uma onda espalhada e na
detecção, tem-se um “pacote” de onda bem estreito, o que resulta na
interpretação de partícula. Não há, portando, coexistência do comportamento espalhado
com o pacote estreito (de onda ou partícula) [2].
2.
Interpretação
Corpuscular (de, por exemplo, Alfred Landé e Leslie
Ballentine). O objeto quântico é uma partícula, não existindo onda a ele
associada. Neste caso, o padrão de interferência é justificado com base na
interação do objeto quântico e o objeto que inicia, supostamente, a
possibilidade de verificação da auto interferência (no caso da dupla fenda, o
antepara com as fenda) [2].
3.
Interpretação
Dualista Realista (originada por Louis Broglie e difundida
mais largamente por David Bohm). O objeto quântico é duplamente composto: uma partícula
(com características clássicas bem definidas, como trajetória) e uma onda
associada (uma onda piloto, guia da partícula). É como se a partícula surfasse a
onda de probabilidade. Assim, onde tal onda se cancela, é região proibida à
partícula [2].
4.
Interpretação
da Complementaridade (de Niels Bohr). O objeto quântico é de caráter
absolutamente ondulatório ou corpuscular, nunca ambos simultaneamente. O que é verificado
na medição é que esclarece quais dos comportamentos foi adotado [2].
Em relação à função de onda,
a equação de Schrödinger, apresentar uma descrição real do objeto quântico e,
ainda, se a teoria fornece uma descrição completa ou incompleta da natureza,
pode-se adotara seguinte tabela [2]:
Interpretação
|
Realidade?
|
Descrição
|
Ondulatória
|
Real
|
Completa
|
Corpuscular
|
Epistêmico
|
Incompleta
|
Dualista
Realista
|
Real
|
Incompleta
|
Complementaridade
|
Epistêmico
|
Completa
|
Considerando a solução ao
Paradoxo EPR, o
qual supunha que a mecânica quântica não era completa, em princípio, as
interpretações Ondulatória e da Complementaridade estão em vantagem.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
[1] Princípio da
Superposição: Dados dois estados admissíveis de um sistema quântico, então a
soma desses dois estados também é um estado admissível.
[2] Oswaldo Pessoa Jr: Conceitos
de Física Quântica Vol 1.
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