“Para nós, físicos convictos, a
distinção entre o passado, o presente e o futuro é apenas uma ilusão, ainda que
persistente.”
Albert Einstein
O que é o tempo? O tempo, assim como a energia, tem uma unidade mínima? O
que passa quando dizemos que o tempo passou, que coisa é essa? É possível um
universo sem tempo? Será que há algo que forma o tempo, algo da qual ele é
resultado assim como as chuvas resultam da condensação de água? Será que o
tempo é um mero artifício da natureza para impedir que todos os eventos sejam
simultâneos?
É importante lembrar que a física trata o tempo como uma dimensão. Dos textos
sobre relatividade (especial e geral), em linhas gerais, pode se dizer que implodiu
a ideia dos físicos do século XIX, de que o tempo é único e universal, ou seja,
que há um relógio universal pelo qual todos devem se guiar. Cada observador
pode postular que seu relógio é um referencial válido (um relógio em perfeito
funcionamento, lógico).
Na teoria da relatividade, de Einstein, o tempo se apresenta como uma dimensão.
Em termos matemáticos isso funciona de maneira extraordinariamente formidável,
com precisão só comparável a mecânica quântica. Porém, ha diferenças muito
gritantes a nossa percepção. Para um observador no espaço, livre de forças, ele
é incapaz de definir as direções (para cima, para baixo, direita, esquerda,
etc) sem considerar a si mesmo como referencial.
Pode se deslocar a uma gama apreciável de diferentes velocidades, podendo, algumas
vezes escolher essas. Ainda considerando tal observador, mas levando em
consideração a percepção do mesmo em relação ao tempo, no espaço, ou deitado em
sua cama, ou de pé na lua, em qualquer lugar, ele perceberá o tempo passar rumo
ao futuro, num ritmo constante (só percebido diferente mediante a expectativas que
alterem suas necessidades ou desejos, como a espera de uma pessoa querida ou a
pressão de entregar um trabalho importante ao chefe). Não existe um aparelho
externo que o faça parar seu avanço no tempo, ou que lhe dê a sensação de
aumento de velocidade do mesmo.
Outro fato que a relatividade especial transparece é o tratamento igualitário
de passado, presente e futuro: a realidade é composta pelos três. Este momento,
lendo estas palavras, é tão importante quanto qualquer outro ponto no tempo. Segundo
Einstein, a foto que vemos (e imaginamos) compor o universo, a posição de tudo
que compõe o momento considerado (você, seus amigos, seus objetos, os prédios
de sua cidade, todas a árvores do mundo, as estrelas, etc), esse quadro
imaginário como o momento – um congelar no tempo - é uma ilusão, uma percepção
pessoal.
Dentro do estudo da relatividade, é mostrado que observadores em movimento entre
si podem discordar sobre simultaneamente de eventos, sobre o ritmo do tempo,
além do tamanho de objetos e massa de objetos. Isso implica que, embora você
esteja vendo o outro observador, que se move em relação a você, mesmo que estejam
muito próximos, o movimento relativo fará a “fotografia” do agora, do momento,
de ambos diferirem (a diferença é tanto maior quanto for a velocidade relativa
entre ambos). Para qualquer tempo, do seu ou do relógio dele, cada um terá uma
percepção diferente da realidade.
Por que isso não é uma experiência comum? O motivo pelo qual essa informação
é estranha ao nosso cotidiano? Tais efeitos são imperceptíveis para as
velocidades que estamos acostumados, mesmo para um carro de fórmula 1 os
efeitos descritos só seriam perceptíveis aos nossos sentidos em velocidades próximas
a da luz.
Como não pretendo fazer um tratado de relatividade aqui, vamos ao que
interessa: em certas circunstâncias, uma combinação de distância com direção e
velocidade, uma pessoa - em um planeta muito distante - pode incluir todo o
ciclo de existência de outra - aqui na Terra - no seu “agora”. A primeira
pessoa, o que ela considera o momento, ao caminhar em dada direção, pode
abarcar o futuro da segunda (tomando este exato instante, aqui na Terra, como
referência). Ao parar de caminhar, estará vivenciando o agora dos terráqueos.
Ao inverter a direção de sua caminhada inicial, incluirá o passado do habitante
da Terra.
Não vou discutir o acesso do nosso hipotético extraterrestre às informações
do nosso planeta e seus habitantes, ou um em particular, nesta discussão. O
nosso distante observador pode jamais vir a ter as notícias da Terra, mas não
deixaremos de se incluidos nos “momentos congelados” no tempo dele durante sua
caminhada, digamos, 100 anos da historia da humanidade.
Isso é intrigante.
Não há qualquer indício experimental que a relatividade esteja errada. Os teste
cada vez comprovam mais a precisão e previsões desta fantástica teoria científica.
Sobre os últimos parágrafos, Brian Greene escreveu:
“(...) se
observarmos com atenção esse esquema temporal que nos é familiar e o
confrontarmos com os frios fatos da física moderna, o único lugar em que ele (o
tempo) pode existir parece ser a mente humana.”
Embora a citação acima esteja fora de contexto da obra do renomado físico,
e isso leve o leitor a considerar a mesma de uma forma bem mais forte do que a
provável intenção de Greene, não foi sem propósito.
Retomando a interpretação dos físicos, ao menos a maioria, cada momento deve
ser considerado imutável, assim como uma coordenada espacial. O “agora”
funcionaria como marcos no tempo, assim como as distâncias marcam o espaço.
Neste ângulo, não faz qualquer sentido dizer que um momento pode ser mudado.
Supor a alteração de um momento é tão lógico e fisicamente consistente quanto
mudar as coordenadas que localizam uma dada partícula.
Esse raciocínio leva a ideia de que os momentos existem, ou melhor,
coexistem. Nossas observações é que passam por eles. Eis o “do que” o tempo é feito:
momentos.
Então porque parece haver um sentido único de deslocamento destes momentos?
Porque lembramos do passado mas desconhecemos o futuro? O que dá este sentido
ao tempo?
Neste caso, os físicos apontam para a entropia. A entropia é a medida de
desordem, de caos, de um sistema. Grosso modo, podemos afirmar que a entropia,
além de uma medida de desordem, também é uma medida do quanto de informação que
se pode obter de um sistema: quanto mais aleatório, menor é o número de
informações.
Os sistemas físicos tendem a evoluir para sistemas desordenados. Um automóvel
de último tipo, perfeitamente acabado, virará poeira se deixado anos ao tempo.
Isso ocorre com a mais bela forma humana também. Se dentro de uma sala sem
qualquer gás, em perfeito vácuo, introduzirmos um balão com hidrogênio e
liberarmos o gás, este se espalhará pelo ambiente de forma aleatória, mas
ocupando todo o ambiente. Este estado teria maior entropia, pois as moléculas
de hidrogênio teriam possibilidades de rearranjo muito superior ao seu confinamento
inicial no balão. Isso exemplifica a segunda lei da termodinâmica.
Simplificando, usaremos este pensamento de forma regressiva e concluiremos,
forçosamente, que no Big Bang há uma incrível ordem. Esta ordem é fruto da
gravidade, pois esta força impunha ao universo recém-nascido uma uniformidade
sem igual e, portanto, de entropia desprezível se comparado ao padrão atual do
universo.
Em última análise, do exposto, pode-se dizer que a direção única do tempo é
fruto das condições iniciais do universo.
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