Por John C Lennox.
Opinião
Um livro empolgante em sua
leitura, bem escrito, com bons argumentos e referências. Não foge dos embates
principais, apresentando soluções solidamente elaboradas para os pontos que
muitos ateus apontam como base para não se crer em Deus. De quebra, rebate, com
bom humor e inteligência várias das construções intelectuais e citações de famoso
ateu Richard Dawkins (dentre outros). Uma obra para protestantes e católicos...
ou melhor: teístas ou ateus.
Mais
sobre o livro
“Por que existe algo em vez de nada?”
É com a apresentação de
respostas a perguntas como esta, as quais são a base de todas as dúvidas, que o
autor direciona sua obra. Lennox argumenta, utilizando-se de bons fundamentos,
que a ciência nasce no seio religioso, sobretudo no cristianismo. Ele mostra
como cientistas que construíram e alavancaram o nascedouro da ciência tinham a
religião como um pilar pessoal e, até, aponta onde se verifica na Bíblia
incentivo à busca por conhecimento da natureza intima da existência (física).
Sobretudo, a ciência nasce pela crença, pelo sentimento, de que há um
racionalismo por traz dos eventos que observamos no universo e, ainda, que tal
construção inteligente é passível de ser por nós, humanos, entendida.
Com estrema habilidade,
mostra que, diferente do que alguns ateus gostam de declarar, a ciência não
leva ao ateísmo, mas sim essa é usada por parte deles numa apropriação
indevida.
Há, de fato, cientistas que
estão numa cruzada contra a religião e Deus, mas isso não significa que a
ciência esteja em tal cruzada.
Para isso ficar claro,
Lennox afirma sobre sua obra: “A questão
central neste livro, no fim das contas, é, em essência, uma questão de visão de
mundo: que cosmovisão se coaduna melhor
com a ciência – o teísmo ou o ateísmo? A ciência sepultou ou não Deus?
Vejamos aonde as evidências vão dar.”
Diante da argumentação de R
Dawkins de que toda fé é uma fé cega, o autor argumenta (e mostra o motivo) de
que “a fé é uma resposta a evidências,
não um alegrar-se na ausência de evidências”.
Lennox mostra a militância
radical ateia, a qual gosta de se apropriar da ciência para, a qualquer custo,
descartar uma possível hipótese de existência de Deus. Isso fica claro, por
exemplo, em citações como de Richard Lewontin, geneticista da Universidade de
Harvard: “Não é que os métodos e as
instituições científicas de algum modo nos obriguem a aceitar uma explicação
material do mundo dos fenômenos, a criar um aparato de investigação e um
conjunto de conceitos que produzam explicações materiais, por mais contra
intuitivas que sejam, por mais difíceis de compreender que sejam para os não
iniciados. (...) Além disso, o materialismo é absoluto, pois não podemos permitir um pé divino na porta.”
Isso não é ciência, mas cientificismo.
O autor chama atenção para o
fato de que “não deveríamos confundir os
mecanismos pelos quais o Universo funciona nem com sua causa nem com aquele que
o sustenta.”.
Talvez o melhor resumo do
livro seja uma citação de Richard Swinburne: “Não estou postulando um ‘Deus das lacunas’, um deus só para explicar as
coisas que a ciência não explicou. Estou
postulando um Deus para explicar por que a ciência explica; não nego que a
ciência explique, mas postulo Deus para explicar por que a ciência explica.”.
Essa postura se choca coma
opinião de parte dos ateus, em especial de R Dawkins, de que a religião é uma
espécie de alternativa a aquilo que a ciência vem explicando.
A obra percorre, ainda o
problema da existência da matéria, da vida na Terra, da mente, bem como da
sintonia fina das constantes cosmológicas e do multiverso. Em alguns dos contra-argumentos utilizados para desmontar “teses” ateístas, Lennox recorre à
matemática para apontar diversas improbabilidades.
Um capítulo muito
interessante é dedicado à informação e à incerteza. Achei todos os argumentos
de Lennox bem elaborados e, até, surpreendentes. A habilidade que ele
se utilizada da teoria da informação para demonstrar sua argumentação é
arrasadora. Essa linha de raciocínio, de forma direta ou indireta, leva a enxergar certos ridículos, como fica claro no capítulo intitulado A Máquina dos Macacos (que coloca,
novamente, R Dawkins em maus lençóis).
Eu diria, ainda, que uma das
grandes evidências que o livro aponta está resumida na citação: “... um materialismo a priori pode produzir uma
atitude profundamente anticientífica – uma relutância em seguir as provas aonde elas conduzem, apenas por não gostar das
implicações de fazê-lo.”.
Deixo, por fim, uma citação
de Lennox na obra aqui comentada: “Argumentar
que as leis da natureza impossibilitam nossa crença na existência de Deus e em
sua interferência no Universo é claramente uma falácia. Seria como alegar que o
entendimento das leis que regem o comportamento do motor de combustão interna
impossibilita a crença de que o projetista do carro, ou um de seus mecânicos,
pudesse interferir ou interferisse, removendo a tampa do cabeçote.”.
Mais comentários na Folha.
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