Autores: Stephen Hawking e
Leonard Mlodinow.
Ed Nova Fronteira
participações S.A.
Síntese: Uma leitura muito agradável,
empolgante, simples (para o assunto tratado), rica em ilustrações e com toques
de bom humor. É difícil de fazer pausas durante a apreciação da obra. Os
autores colocam os leitores a par das mais modernas teorias físicas. Com base
nessas, respondem a questões fundamentais da existência.
Mais sobre o livro.
“... como podemos compreender o mundo no qual nos encontramos? Como se
comporta o universo? Qual a natureza da realidade? De onde veio tudo isso? O
universo precisou de um criador?” Com esses questionamentos, os autores levantam a base da busca por respostas
que norteiam o livro.
Embora essas perguntas sejam
comuns na área da filosofia, Hawking e Mlodinow entendem que a filosofia não
acompanhou o desenvolvimento moderno da ciência, da física em particular, e
afirmam que os cientistas, e não os filósofos, estão mais aptos a darem tais
respostas.
Desde a década de 1920,
verificou-se que o senso comum, o bom senso (ao qual se adequa a física
desenvolvida por Newton, por exemplo), deixou de ser um trilho na condução das
teorias e propostas científicas, uma vez que se verificaram fenômenos que
derrubavam qualquer tentativa de explicação que fosse comparável a fenômenos
diretamente observáveis (ou seja, verificado dentro da amplitude visível
diretamente aos nossos olhos, percebido pelos sentidos). A visão do “senso
comum” passou a ser uma percepção amadora, ingênua, da realidade mais profunda.
Deste quadro, nasce a mecânica quântica (e a relatividade).
A mecânica quântica reproduz
os resultados macros (escalas maiores que moleculares), ou seja, da física
apresentada por Newton, e de escalas atômicas e subatômicas. Isso mostra que as
teorias desenvolvidas pela humanidade são, até onde sabemos, temporárias, pois
estão passíveis de serem superadas por outra teoria mais abrangente e/ou mais
precisa (lembra da teoria geocêntrica?).
Será que existe um arcabouço
teórico unificado, uma teoria universal definitiva, que dê conta de todos os
fenômenos verificáveis e que mostre que as teorias que temos hoje são
aproximações, ou frações, dela?
“A teoria-M é o único modelo com todas as propriedades que, cremos,
deveriam constar numa teoria final.” Essa é a visão pela qual as respostas
às perguntas iniciais serão conduzidas, dispensando, segundo os autores, a
necessidade de um criador.
O texto segue com um
sobrevoo pela evolução racional que nos traz a moderna ciência, passando pela
Grécia e seus pensadores, Kepler, Galileu, Descartes, Laplace, Newton,
Einstein, dentre outros. Três novas perguntas são apresentadas:
1.
Qual a origem das leis (da natureza)?
2.
Há quaisquer exceções às leis, isto é,
milagres?
3.
Há somente um único conjunto possível de
leis?
O que posso adiantar sobre
as respostas a tais questões, para não estragar sua leitura do livro, é que os
autores dispensam a hipótese “Deus” em suas explicações. Alertam ainda que: “Este livro é fundamentado no conceito de
determinismo científico...”.
No capitulo 3, apresenta-se
a relação entre teorias e realidade: “como
sabemos que nós temos a imagem verdadeira da realidade, sem distorções?”.
Os autores explicam como a teoria que dispomos implica na percepção que temos
àquilo que chamamos de realidade: “Não há
conceito de realidade independente de um quadro ou de uma teoria.” (essa
característica interdependente entre o que se percebe a teoria utilizada para
compreender tal percepção permite uma primeira incursão à teoria da mecânica quântica).
Assim, propõem o “realismo dependente”, onde “é inútil indagar se um modelo é real, apenas
se concorda com as observações.”. Isso tem um impacto profundo naquilo que conceituamos
como “existente”.
Com mais detalhes, o livro
mostra as observações experimentais que levaram à mecânica quântica,
aproveitando para, por meio de exemplos (até utilizando de comparações com
eventos conhecidos), levar a uma compreensão geral dessa teoria. Em particular,
chama atenção para o Princípio da Incerteza e o impacto deste na concepção do
mundo subatômico: “Nosso uso de termos
probabilísticos para descrever o produto de eventos do quotidiano reflete (...)
nossa ignorância sobre certos aspectos dele. As probabilidades na mecânica
quântica são diferentes. Elas refletem uma aleatoriedade fundamental na
natureza.”. Isso leva a entender que o conceito de passado, como algo
definido e imutável, deve ser revisto (ver a experiência da Escolha Retardada):
“observações que fizermos de um sistema
no presente afetam o seu passado.”.
O texto segue apresentando
teoria de campo e alguns aspectos intrigantes da teoria da relatividade. Ao apresentar
as quatro forças conhecidas da natureza, também aborda o esforço de unificar as
mesmas num só arcabouço teórico, bem como a dificuldade de tal tarefa. Isso conduz
à teoria das cordas e, em seguida, à teoria-M.
O conceito de multiverso (múltiplos
universos) que emerge da teoria-M é utilizado para explicar a impressionante
precisão das constantes físicas que possibilitam as forças que conhecemos (na
forma precisa que as constatamos) e, em consequência, toda espécie de fenômeno
verificado no universo. Ou seja, considerando inúmeros universos existentes, ao
menos em potencial teórico, explica-se o motivo pelo qual o nosso existe em
condições tão perfeitas para, bilhões de anos após o surgimento do mesmo, haver
humanos para formularem questões sobre existência do próprio universo. Para os
autores: “o universo apareceu
espontaneamente, começando de todo modo possível.”. No contexto, a “seleção”
do universo que vemos é feita de modo análogo à “seleção” que ocorre quando se observa
a manifestação de uma dentre várias possibilidades de resultados relacionados à
mecânica quântica: “podemos retraçar a
história do universo de cima para baixo, ou seja, ir para traz partindo do
tempo presente. (...) Criamos a
história pela nossa observação, em vez de a história nos criar.”.
A adequação da natureza para
a nossa existência é tomada ao avesso, ou seja: “Nosso universo e suas leis parecem seguir um projeto feito sob medida e
que, se for para realmente existirmos, deixa pouca margem para alterações.”.
Todavia, essa alegação leva os autores a divergir de que isso leva a uma
hipotética ação divina, ao contrário do que a maioria de nós suporia.
“... a recente descoberta de que tantas leis naturais têm uma extrema
sintonia fina pode levar ao menos alguns de nós de volta à velha ideia de que
este grande projeto é obra de algum grande projetista. (...) Essa não é a
resposta da ciência moderna.”. Hawking e Mlodinow concluem que o multiverso
e, com ele, a sintonia fina das constantes físicas verificadas no nosso universo,
pode ser visto como consequência da teoria-M quando esta trata do início do
cosmo: “o conceito de multiverso pode
explicar a sintonia fina das leis físicas sem necessidade de um criador
benevolente que fez o universo em nosso benefício.”.
Do exposto, por fim, os
autores concluem pela teoria-M como a “única
candidata a uma teoria completa do universo.”.
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