Neste texto, exponho minha
divergência de opinião sobre algumas passagens do (excelente) livro citado acima, dos físicos Stephen Hawking e Leonard Mlodinow.
1. “Embora sintamos que podemos escolher o que fazer, nossa compreensão da
base molecular da biologia mostra que os processos biológicos são governados
pelas leis físicas e da química. E que, portanto, são tão determinísticos
quanto as órbitas dos planetas. (...) É difícil imaginar como o livre-arbítrio
poderia operar se nosso comportamento é determinado por leis físicas. Assim
parece que somos apenas máquinas biológicas e que o livre-arbítrio não passa de
uma ilusão.”.
Vou ser bastante breve neste ponto,
uma vez que já apresentei dois textos ("livre-arbítrio é uma ilusão?" e "onisciência e livre-arbítrio") que tratam das principais âncoras (teóricas) da
citação acima. Analisemos, rapidamente, dois aspectos, um subjetivo e outro
objetivo no campo moral (e, até, criminal). Primeiro: alguém, em sã
consciência, pode negar que tem liberdade de parar esta leitura neste exato
momento? Ou que pode desviar a vista até o topo da página antes de reiniciar? O
que falar sobre levantar ou não o braço? No aspecto moral, se somos “maquinas biológicas”
movidas por reações químicas, então os presos devem ser soltos, pois, afinal,
eles não tiveram qualquer opção, a não ser cometer compulsoriamente o crime
pelo qual foram condenados.
Outra coisa: como nosso corpo é físico, quaisquer
manifestações no cérebro que comande nossos atos têm que, de alguma forma, ser (originado por) uma lei física (ou oriundo de um conjunto de leis). Todavia, para quem acha que
sejamos mais do que uma porção de neurônios que "se acham" gente, a indução dos
impulsos no cérebro (portanto, não os, propriamente ditos, impulsos neurais, de
natureza física – elétrica) são manifestação da mente, ou alma se preferir [1].
Como já explanado em outro texto,
acredito ser a mente a origem da matéria, não o oposto. O sistema nervoso
central é, neste contexto, uma interface, um captor-transmissor, entre o corpo
e a mente. É perceptível que, além das respostas do sistema vegetativo, algumas
outras são gravadas, fixadas, no sistema nervoso (muitas vezes, por exemplo, um
experiente motorista age, num caminho conhecido, sobre o carro de forma
automatizada). Obviamente que se há dano nessa interface, sistema nervoso, toda a “conexão” é
prejudicada.
A maneira que “os sinais” são trocados
entre o mecanismo intermediário e a mente é descrito em aqui: tratasse
de uma atividade no nível básico da matéria, no domínio da mecânica quântica. A
percepção da manifestação da vontade da mente, consciência da decisão, pode ser
percebida posteriormente.
Se concebermos que Deus existe e é
onisciente, sendo este meu ponto de vista, a liberdade que Ele nos deu deve,
necessariamente, estar em um nível acima (pelo menos) da criação do nosso
universo (e o tempo neste contexto). A manifestação das decisões que tomamos
enquanto não apresentados em atos no mundo físico é percebida como os impulsos nervosos
que, cerca de meio segundo antes da tomada da consciência de uma decisão,
são percebidos no cérebro.
2. “... podemos retraçar a história do universo de cima para
baixo, ou seja, ir para traz partindo do tempo presente. (...) Criamos a história pela nossa
observação, em vez de a história nos criar. (...) Nosso universo e suas
leis parecem seguir um projeto feito sob medida e que, se for para realmente
existirmos, deixa pouca margem para alterações.”.
Hawking e Mlodinow propõem
que todas as histórias possíveis do universo (bem como até as leis físicas que
o definem) estão em sobreposição, como as trajetórias na experiência da DuplaFenda. O ato de observar, a medição quântica, é que define tudo aquilo que
percebemos e o próprio universo em que vivemos. Assim, tal qual se constata uma
medição qualquer no experimento da Dupla Fenda, as leis físicas e a história do
universo que vivemos é definida. Por tal motivo, os autores postulam que é
dispensável a existência de Deus para explicar o universo.
Contudo, quem observa? Quem
constata que pode haver ou não um dado resultado? É a própria interação entre
as partículas, as quais não estão sequer definidas?
A sobreposição de todos os
resultados possíveis é desfeita na medição, essa redução de várias
possibilidades para um resultado mensurável é dita “redução de estado” ou
“colapso da função de onda”. Mas é fato que a mera iteração entre as
partículas, por si só, não implica em redução de estado (ver a experiência da
escolha retardada). Até o momento, a única candidata ao agente que provoca a
redução de estado e que possibilita a concordância com as experiências
realizadas em laboratório é dada pela hipótese defendida pelo físico, entre
outros (poucos), Eugene Wigner: a consciência causa o colapso da função de onda.
Sem perceber, acredito, Hawking
e Mlodinow propuseram um dispositivo circular, que leva a questionamento do tipo: “quem nasceu primeiro,
o ovo ou a galinha?”.
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[1] Um estudo a parte, futuramente,
poderá melhor definir tais entes, mente e alma, de forma mais apropriada, Mas,
no presente texto, não há prejuízo em sobrepor o significado de ambos.
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