Compare as ilustrações que utilizo na gradual construção da Árvore da Vida, quando apresento três triângulos, e da Árvore propriamente dita. Na primeira, todas as Tríades apontam para cima (um dos
vértices sobre os outros dois). Na segunda, duas estão invertidas. Isso é
proposital é tem uma explicação.
Lembra-se do mito do Pecado
Original? Não vou me alonga em termos filosóficos no assunto, mas vou
apresentar minhas conclusões. Esta inversão parcial vista nas figuras é fruto
de uma postura (voluntário ou induzida) da criação. A representação com todos
os triângulos iguais e para cima significa que a criação está voltada para o “alto”,
seu Criador. O raciocínio análogo é válido: a inversão de dois triângulos significa
o desligamento, ou algo próximo a isto, da criação para com o Criador.
Quando nós, na
condição de criaturas, passamos a nos iludir com a assimetria, atiramo-nos em
uma ilusão de tal ordem, uma overdose da assimetria, que há uma recusa em
buscar a ligação universal. Assim, tem-se uma ruptura com o princípio, a mente
que tudo forma.
Há duas consequências
para esta nossa atitude. A primeira é a perda de percepção quanto à ligação
indissolúvel de causa e efeito, no sentido que estes são fruto de perspectivas
de observação. Isto implica em ver Biná
e Chochmá, representando a informação
e a matéria, de formas distintas e não unidas, como uma remoção de Ketér.
A Árvore da Vida é
muito feliz nessa representação, pois, com a inversão da Tríade Intermediária,
há espaço para mais uma esfera entre as duas Tríades Superiores. Nesse espaço,
alguns desenhos trazem a não-sephirah
conhecida como Daat, que significa conhecimento.
O efeito direto desta
nova assimetria no universo físico é a existência do tempo, tal e qual o percebemos
(clássico e moderno). Para todos os efeitos, Daat é uma força similar às outras que constam na Árvore da Vida.
Mas é percebida devido a uma ação que, em primeira análise, poderia não ser
tomada pelo homem (como criação). Alguns autores defendem que nós substituímos
Deus, representado por Ketér, por um
falso Deus, Daat, ao tomar tal
decisão.
A outra consequência
é mais rara de ser representada em gravuras da Árvore da Vida. Desvinculando
causa e efeito de sua ligação natural primeira, os agentes livres da criação
(nós, seres-humanos) passamos a admitir que somente os eventos futuros -
efeitos - estão relacionados à causa. Com esta interpretação e considerando a
variação de agentes e interações existentes em Assiá, num dado instante, o futuro não parece estar escrito.
Desta forma, planos
são feitos, desejos alimentados e, assim, a imaginação alça grandes voos.
Lembrando que a criação é um produto mental, com nossa “mente pessoal” como uma
pequena fração, esta multiplicidade gera um produto, um resíduo. Mas, como pode
ser percebida em nossas experiências cotidianas, dentre as várias hipóteses que
imaginamos decorrerem de uma determinada situação, uma só é vivenciada por nós.
As outras não se cristalizam em Assiá.
Grosso modo, tais subprodutos são como corpos sem alma, são cascas. Na cabala, este
domínio é denominado por Clipot, cujo
significado é, exatamente, cascas.
Há duas
representações clássicas para Clipot nas
ilustrações que a adotam na Árvore da Vida. Uma configura uma sombra por trás,
ou abaixo, de Malchut. A outra exibe
uma sombra de todas as 10 sephirot,
uma Árvore de Sombras.
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