Einstein afirmava que
a teoria que ele elaborou, a relatividade, era tão bonita que tinha de ser
verdadeira. A rigor, numa primeira análise, nada na física diz que uma teoria
tem que ser bela: ela tem que ser prática, ou seja, ser capaz de prever
eventos, casos práticos. Porém, numa análise mais liberta, podemos afirmar que,
em certo sentido, a física requer um componente fundamental da beleza: a
harmonia.
Uma teoria só cria
bases sólidas na ciência se não for conflitante, se não apresentar conflitos,
contradições. Nas palavras de Brian Geene:
“Mas é bem verdade que algumas decisões dos físicos teóricos baseiam-se
no sentido da estética - a sensação de que as estruturas teóricas têm uma
elegância e uma beleza naturais, que condizem com o que vemos no mundo físico.”
Talvez por isso este
físico tenha denominado um dos seus mais conhecidos livros por O Universo Elegante.
A estética, para ser
harmoniosa, tem um vínculo quase sempre indissolúvel com a simetria. Para
simplificar, vamos fazer uma analogia com a simetria (geométrica) presente no
cotidiano. Dizemos que um objeto é absolutamente simétrico quando apresenta a
mesma aparência seja qual for o ângulo que é observado: uma
esfera de cor única tem igual aparência mesmo que a giremos em um grau
arbitrário e num sentido qualquer; um cubo requer ângulos determinados (90º) e
sentido precisos (paralelo a alguma das faces) para manter o mesmo aspecto após
um giro. Na física, a simetria é algo que guarda equivalência com este conceito.
Nas sociedades, em
lugares e tempos diferentes, as leias que as regem mudam, adaptam-se (portanto,
rompem uma simetria). No universo físico parece ser diferente. A experiência científica
tem apontado para a ausência de mudanças nas leis que regem o cosmo. Não se
pode provar isso, mas todas as nossas experiências apontam para esta direção.
Esta invariância das
leis naturais no tempo e espaço é denominada pelos cientistas por simetria da
natureza. Apoiando-se no conceito intuitivo de simetria apresentado, isso significa
que de qualquer ponto do espaço e do tempo que as leis da natureza são
observadas, elas são iguais. Não é belo?
Nas condições que
imperavam no início do universo, em uma temperatura de trilhões de graus
Kelvin, dentro do escopo de uma Teoria Sobre Tudo, uma única força imperava no
universo. A medida que o universo esfriava, enquanto expandia-se, aconteceu a quebra
de simetria. Em poucas palavras, houve mudanças na forma de se ver (perceber) esta
força: ela, portanto, perdeu sua simetria.
As pesquisas atuais
levam à conclusão da existência de quatro forças na natureza. Duas delas são
muito familiares no cotidiano diário: a gravidade e a eletromagnética. A
gravidade é a força que atrais os corpos que possuem massa: mantem as pessoas
no nosso planeta, a Terra em órbita em torno do Sol e as estrelas se agrupando
em galáxias, dentre outras coisas. A força eletromagnética é responsável pela
luz que brilha em nossas cidades, pela atração dos imãs, pelos relâmpagos, por
manter os elétrons ligados ao núcleo atômico e outros feitos de conhecimento
também público.
As outras duas são
quase desconhecidas fora do meio dos físicos: força forte e força fraca. A
razão é bastante simples para esta ignorância: são forças subatômicas, ou seja,
atuam em escalas menores que as do átomo. Seus efeitos estão diretamente ligados
à estrutura do núcleo atômico.
A força forte une os
quarks, formando assim prótons e neutros. Além disso, é esta força que mantém
prótons e nêutrons ligados no pequeno espaço que forma o núcleo dos átomos. Já
a força fraca tem como efeito conhecido a desintegração radioativa que acorre em
determinados elementos, como o césio por exemplo.
Ou seja, de uma só
força inicial, antes do primeiro segundo de existência do universo físico,
paulatinamente, esta foi desdobrando-se (perdendo sua simetria) em duas, depois
três e, finalmente, nas quatro que conhecemos hoje. Se isto vier a ser confirmado
dentro de uma estrutura teórica e com resultados práticos experimentais,
teremos a tão almejada Teoria Sobre Tudo.
Uma particularidade:
a simetria associada às três forças não gravitacionais é denominada de simetria
de calibre. Esta simetria aponta para a interação entre quarks de cores [1] iguais
como idênticas entre si. Ou seja, quarks verdes interagem com quarks verdes da
mesma forma que quarks vermelhos interagem com entre si. Além disso, a interação
de quarks de cores diferentes são iguais (azul com verde é igual à interação de
vermelho com azul).
[1] As cores dos quarks são rótulos,
não devem ser associados ao aspecto visual.
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