“Por
cima do firmamento que estava sobre a sua cabeça, havia
algo
semelhante a um trono (...); sobre esta espécie de trono,
estava
sentada uma figura semelhante a um homem.”
Ezequiel
1:26
Ainda baseado no
trabalho do rabino Kaplan, ele relaciona a palavra hebraica Kissê com o Mundo de Beriá. Kissê significa trono, por isso é vinculada a este plano de
existência. Uma vez que Atsilut é
confundindo costumeiramente com o próprio Criador, o plano que está
imediatamente abaixo, ou onde ele se assenta, do nosso ponto de vista, recebe a
denominação de Mundo do Trono.
Uma criação ex-nihilo, ou seja, a partir do nada (em
termos absolutos), em hebraico, é denominada por Bara. Há mais duas palavras de significado similar: Iatsar (que significa formar) e Assa (que significa fazer). Assim,
criado, tem existência o Mundo de Beriá,
o Trono de Deus.
Neste plano de
existência, há uma nova quebra de simetria: aqui se origina a substância,
segundo os estudiosos de cabala definem. Fica claro que não se trata mais
somente da existência de ideias, em contraste com Atsilut. Mas como é por que isso ocorre?
Para a criação, o princípio,
Resh, ou a mente universal, é Atsilut. De forma análoga a dificuldade
encontrada pelos cientistas modernos para definirem o que explode no evento
conhecido como Big Bang - princípio do universo físico [1] - existe uma barreira
formada pela limitação de conceitos e experiências nossas para explicar o
primeiro plano da criação. A falta de partes, de divisões, é um dos problemas
cruciais. É por tal razão que, particularmente, gosto de associar este nível ao
equilíbrio e ao andrógeno.
Mas em Beriá, a realidade se torna tangível,
ainda de forma sutil, ao nosso entendimento. Refinando [2] o conceito de
princípio, mais duas grandes qualidades universais afloram.
A primeira é o que se
principia. Neste nível da existência, o arquétipo universal do princípio,
ligado indissoluvelmente à criação, implica que algum ente passa a existir (se
já existisse, não teria lógica em aplicar o conceito de princípio). A este agente
existencial, protótipo da matéria - o que originará nossas ideias de cheio, fixo,
ou masculino - é que os cabalista denominam por primeira das substâncias.
A segunda qualidade
arquetípica distinguível vem da própria separação entre os dois entes substância
e princípio. Se há uma diferenciação, então há informação. A capacidade de
diferenciar - o que resulta em nossas ideias de vazio, volátil, ou feminino - é
a mãe que formatará a substância (que dará forma, informação que define)
tornando possível a aplicação plena da assimetria.
Contudo, dentro do esquema que iniciamos na seção sobre Atsilut, e para
uma melhor sequência explicativa das próximas seções, um novo esboço é
conveniente.
Friso que estes conceitos são profundamente
interdependentes. Mas a capacidade que este novo universo nos confere de
perceber tal nuança é o que permite afirmar: trata-se do embrião da substância.
Note, ainda, que estamos estabelecendo
o extrato da relação causa e efeito. O nível da criação que estamos discorrendo
possibilita a existência deste enlace, tão comum no nosso universo físico, mas
num contexto diferenciado.
Enquanto nós só percebemos efeito
precedido de causa, com uma relação temporal pertinente e imutável entre estes,
no que toca à Beriá a(s) causa(s) e
o(s) efeito(s) são meros ângulos de percepção (uma relação temporal seria
totalmente imprópria, visto que não existe tempo neste nível).
A substância existe devido à informação
que permite distingui-la? Ou é o contrário, uma vez que a segunda requer a
primeira para existir, para se fixar? E o que dizer do princípio,
que, sem ambos os conceitos, não faz sentido? O que é causa e o que é efeito
[3]? Não deixe que a disposição didática expositiva da figura induzir seu
raciocínio, caro leitor. A primeira é o que se principia.
Quando - e se - for possível aos nossos
cientistas equacionarem este plano, o insight
para fazê-lo corresponderia ao princípio; o que está se equacionando, à substância;
e a equação propriamente dita à informação.
Os cientistas buscam por uma teoria
sobre tudo (TST) [4], um estudo que unifique a mecânica quântica e a teoria da
relatividade. Cabe ressaltar que alguns físicos, minoria em verdade, não
cogitam tal possibilidade. Este elemento básico que estaria na TST seria um bom
análogo para Beriá
A leitura atenta do livro do Gênesis
leva à constatação de que para os atos de criação atribuídos a Deus - a exceção
da palavra hebraica Bara (criar) - os
termos Iatsar e Assa são comumente traduzidos como disse ou falou. Esta observação
é de extrema importância quando for apresentado o contexto da física que
associa vibrações a partículas subatômicas e a criação do próprio universo.
Este é o Mundo de Beriá. É o universo da criação.
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[1] Essa dificuldade
é fruto do colapso das leis que regem nossa realidade. Tais leis se formam na
medida que o universo evolui no tempo.
[2] Insisto que este refinamento
ocorre por nova quebra de simetria.
[3] Gosto de comparar
está particularidade aos efeitos ditos sem causa da mecânica quântica, onde
alguns fenômenos quânticos são medidos e os resultados estão profundamente
vinculados ao fato de haver uma observação dos mesmos: a existência do fenômeno
quântico (medido), a medição propriamente dita e os resultados provenientes da
mesma são inseparáveis (a escolha retardada é um belo exemplo disso).
[4] De acordo com a
maioria dos pesquisadores, a TST disporia de uma espécie de tijolo básico
irredutível que comporia tudo no nosso universo. As diversas partículas
subatômicas que temos conhecimento (como fótons, quarks, elétrons, etc) seriam
compostos desse fundamento da nossa realidade, indiferençável, mas seria a
substância, por excelência, da qual tudo mais seria construído.
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