Na Scientific American Brasil,
número 61, Edição Especial História e Filosofia da Ciência, traz em sua capa o
título O Buraco Negro no Começo do Tempo.
Trata-se de um artigo interessante e original em sua abordagem versando sobre
a teoria do Big Bang em uma proposta bastante diferenciada. O que o autor
apresenta em seu trabalho de pesquisa é uma proposição em que o nosso universo é
o horizonte de eventos de um buraco negro de outro universo com uma dimensão
espacial a mais, ou seja, 4 dimensões espaciais.
Mas como entender um universo de 3 dimensões
sendo o horizonte de eventos de um buraco negro de outro universo de 4
dimensões espaciais?
Bom, primeiramente temos de
saber o que é um horizonte de eventos de um buraco negro. Horizonte de eventos,
no caso aqui abordado, nada mais é do que a limitação espacial física a partir
da qual a gravidade do buraco negro atrai qualquer coisa, inclusive a própria
luz. No caso particular do nosso universo, pode-se imaginar, grosso modo, que
esse horizonte de eventos é a superfície de uma esfera cujo o centro é um
buraco negro: a partir desse limiar, qualquer coisa que chegue próximo ao
buraco negro é atraído para o mesmo por sua gigantesca força gravitacional.
Nesse exemplo, obviamente,
por se tratar de uma superfície, está se referindo a algo com duas dimensões.
De forma análoga, em um universo com quatro dimensões espaciais, tal horizonte
de eventos teria três dimensões. Pois é exatamente esse ente limitante de três dimensões
espaciais (o tal horizonte de eventos do universo hipotético) é que serve como
modelo para explicar o nosso próprio universo (com 3 dimensões espaciais).
Por que essa hipótese é
interessante? Ela permite chegar a algumas respostas que hoje o modelo padrão
não nos fornece. Como exemplo, tem-se o valor das (cinco) constantes básicas da física,
das quais dependem as leis que verificamos na natureza. Outro ponto ainda não
entendido é a suposta inflação cósmica no início do universo, a qual é a melhor explicação
para a aparente homogeneidade que nós observamos no universo em relação a uniformidade de distribuição de massa e a energia/temperatura visualizada por nós.
Além disso, temos a teoria do Big Bang, a qual é uma excelente explicação para a
evolução do universo após fração de segundo do momento zero, mas que, sobre o Big que
fez Bang, sobre o que explodiu, ela silencia, não fala nada: as leis físicas
conhecidas não são aplicáveis ao se tentar explicar essa singularidade primária
(as leis físicas entram em colapso em singularidades).
Partindo de um universo existente
e com quatro dimensões espaciais, já se supõe que o mesmo possua leis físicas e,
com isso, consegue-se explicar algumas coisas que tem se mostrado nebulosas até
o momento no modelo padrão, inclusive os três pontos eu acabei de citar no parágrafo anterior.
Adicionalmente, o autor do artigo em foco acrescenta que a hipótese dele pode ser testada: isso é
fundamental para ter uma teoria realmente científica, uma vez que a ciência se
baseia em evidências físicas, ou seja: se não pode ser testada, não faz parte
da ciência.
Todavia o próprio autor evidencia o ponto
fraco dessa nova abordagem para a origem do universo. Tal “calcanhar de Aquiles” é que, de fato, a
abordagem apresentada empurrar as atuais lacunas, as ausências de respostas,
para trás, uma vez que se teria que explicar a origem desse universo primário postulado, o com 4 dimensões espaciais.
Vale notar que não é a primeira teoria que
consegue completar lacunas na cosmologia invocando mais dimensões físicas. Um
exemplo já apresentado aqui nesse blog é teoria das cordas.
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