“Mágica é qualquer
tecnologia suficientemente avançada.”
Arthur C Clarke
Algo de suma
importância precisa ser abordado aqui: a liberdade. O mito da criação
judaico-cristão lança a liberdade humana como um presente precioso que Deus respeita e
cultiva no homem.
Adotando uma
interpretação próxima a do professorAmit Goswami, quando ele diz que a realidade é fruto da decisão do homem,
ou melhor, da mente única, podemos entender o quão fundamental é tal liberdade
para a existência do mundo que partilhamos.
As experiências
científicas da dupla fenda e da escolha retardada indicam que o ato de
medir traz algo do “quântico” para o “clássico”. Posição, tempo e espaço são “nuvens”
de probabilidade em termos subatômicos. O princípioda incerteza mostra a natureza flutuante da “matéria”. As equações da mecânica quântica, em uma de
suas mais famosas e aceitas interpretações, aponta para a sobreposições de
estados: a coexistência de múltiplas possibilidades, com probabilidades diferentes
para cada uma destas. Só uma será existirá na medição.
Veja a importância
deste comportamento. A ideia de que, a nível básico físico, existe um mar de
probabilidades que constitui a realidade leva o conceito de “liberdade do homem”
a um patamar nunca imaginado. É como se a base da matéria fosse uma massa
pronta para ser trabalhada a gosto de seu modelador, como argila nas mãos de um
escultor.
Segundo os cálculos
da teoria das cordas, se não existisse tal flutuação, se não existisse a
incerteza - resultando em intensa agitação a nível subatômico - as energias da
corda fundamental corresponderiam a uma massa de 10 bilhões de bilhões (10 elevado
a 19) de vezes maior que de um próton. Detalhe: o próton é composto por três
quarks (fundamentais).
O que isso quer
dizer? Significa que sem esta flutuação o universo físico estaria longe de ser
como o conhecemos, provavelmente nem existiria. O nível de energia mínimo da
matéria seria absurdamente alto, causando um colapso gravitacional. Em suma, a
liberdade ampla e irrestrita é parte da natureza da matéria porque sem ela as
coisas não existiriam como as conhecemos. O mundo das divisões, do limite, do “eu”
e “você” precisa da liberdade para existir mesmo nos seus alicerces mais
básicos.
Comecei esta seção
remetendo a interpretação do mito judaico-cristão da criação. Ainda neste,
quero expor que me alinho com aqueles que consideram a criação como um ser
consciente. A escala gradual que apresentei descreve como saímos de energias
poderosíssimas e chegamos a um nível de existência onde a multiplicidade é
plena e passa a dominar as relações. Pode-se interpretar estes planos
conscientes da criação como deuses: seres de grande poder capazes de moldar a
realidade onde vivem.
Quando é citada a
criação do homem no mito bíblico, fala-se de um ser do qual todos derivamos: a
mente única que molda o universo, segundo Goswami. Importante: não vejo Deus, o
Criador Imanifesto, o nada cabalístico, como aquele que molda esta realidade
física que experimentamos. Minha interpretação é de que o homem molda esta
realidade.
Nesta concepção, a
liberdade dada por Deus ao homem se manifesta em todos os níveis. Isso explica
o princípio da incerteza. A Árvore da Vida é o homem: imagem e semelhança do
Criador. Se cada “tijolo” básico da matéria é uma percepção desta estrutura
básica da criação, a liberdade de mudar seu estado, a qualquer momento, é
inerente também à existência do mundo subatômico: fótons, elétrons, quarks,
etc. No nível elementar de nossa realidade física, essa identidade do homem com
a estrutura de seu universo impede a separação da influência do cientista sobre
o experimento conduzido.
Sem a liberdade para
a criação, a multiplicidade não seria possível: o universo entraria em colapso.
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