domingo, 29 de abril de 2012

Teísmo ou ateísmo: para qual apontam os indícios que a ciência nos evidencia?


Parte 1

Introdução

Poderia se atribuir a um “capricho” do acaso se encontrássemos uma formação de pedras que configuram, digamos, 20 montes distintos enfileirados e, ainda, que cada um deles contivesse rochas em quantidades múltiplas de 3 numa sequência crescente? Suponha que um só apostador, marcando no volante só seis números por sorteio, ganhasse por cinco vezes seguidas a mega-sena [1]: esta possibilidade é menor do que uma em 1038 (um seguido de 38 zeros) [2].
Em ambos os casos, se tomados como reais, é improvável que alguém de inteligência mediana (ou, até, abaixo), aceitasse que se contou com um golpe de sorte. Iríamos inferir que alguém arrumou as pedras na sequência correta, no primeiro caso apresentado, e que “se direcionou” o concurso para o apostador “vidente”.
É interessante observar que, em nenhum dos dois casos, as leis naturais, físicas, foram violadas. O que ocorreu foi: direcionamentos deliberados para se atingir um fim (mesmo que com possível violação de leis criminais, no segundo caso).
Pode-se, contudo, buscar como isso ocorreu, ou seja, o mecanismo utilizado para tais resultados verificáveis. Quanto mais engenhoso e robusto contra falhas, maior inteligência atribuiríamos ao autor do mecanismo e do projeto de direcionamento como um todo. Aliás, tem-se, assim, uma amostra da capacidade intelectual (ao menos específica) de uma mente: a maneira pela qual um projeto é desenvolvido e as soluções aos problemas eventuais que são dadas (ou mesmo a incorporação de auto corretores no corpo da execução do projeto, de forma a se atingir um fim especifico).
Essa foi um exercício útil para, após mostrar alguns estudos e constatações, fechar este texto com uma analogia.

1.    Sintonia
O leitor familiarizado com a física, sobretudo com os problemas coligados a origem do nosso universo e das leis físicas que o regem, sabe que é necessário um ajuste muito preciso, uma sintonia fina, de determinadas constantes para que as forças que conformam o universo resultem em condições nas quais se possa haver vida (e inteligente a ponto de chegar a notar tal ajuste) conforme a conhecemos (ler, neste blog, o texto "Sintonia Fina").
O físico Brian Green (em “O Tecido do Cosmo”) cita o problema da densidade crítica (quantidade de massa por volume pós Big-Bang): uma diferença de 0,01% (uma parte em 10 mil) após um segundo do Big-Bang, levaria, hoje, a 0,00000000001 da densidade crítica (supressão de uma parte em 1011). Pelo universo observado hoje, a densidade um segundo após o Big-Bang teria sido extremamente próxima a da densidade crítica.
Mas esse é um ajuste grosseiro, se comparado ao do próximo exemplo. Sir Roger Penrose (O Grande, O Pequeno e a Mente Humana) pergunta (e responde em seguida): “Qual é a probabilidade de que, puramente por acaso, o Universo tivesse uma singularidade inicial que se parecesse mesmo remotamente com o que é? A probabilidade é de menos de uma parte em 10 elevado a 10123 “ (o número um seguido por 10123 zeros [3]).

2.    Vida
John C Lennox (Por que a Ciência Não Consegue Enterrar Deus) mostra que as possíveis combinações dos 100 aminoácidos, da menor proteína com função biológica conhecida, totalizam em 10130 possibilidades, das quais “uma pequena parte delas terá importância biológica”. O neoateu Richard Dawkins, aclamado por muitos ateus, reconhece a improbabilidade do mero acaso favorecer a evolução: “É esmagadora, gritantemente, absolutamente óbvio que, se o darwinismo fosse realmente uma teoria do acaso, ela não poderia funcionar”. Há outras citações do gênero entre pesquisadores.
No entanto, Dawkins (O Relojoeiro Cego) tentou uma saída para a sinuca: postulou a divisão do processo em “pequenas partes controláveis”. Na leitura dessa proposição, verifica-se a necessidade de um controlador e de um objetivo (tais características objetivas e o controlador seriam gerados ao acaso?). Lennox, na obra já citada, demonstra que a probabilidade, mesmo com um “revisor” e “objetivo”, ainda apresenta probabilidade irrisória. Sobre o artífice proposto por Dawkins, Lennox faz uma citação de David Berlinski: “Todo esse exercício é [...] uma façanha de auto-engano. Uma frase-alvo? Iterações que se parecem com o alvo? Um computador ou um macaco chefe que mede a distância entre o fracasso e o sucesso? Se as coisas são cegas, como representar o alvo, e como avaliar a distância entre os alvos e as frases geradas ao acaso? E quem fará isso? O macaco-chefe? Como explica-lo? O mecanismo do design deliberado, expurgado pela teoria darwinista no nível do organismo, reapareceu na descrição da própria seleção natural, um exemplo vívido do que Freud quis dizer quando falou do retorno do que foi recalcado” [4].

3.    Proposições
Note que há proposições básicas na física. Cito:
1)    As leias da física são idênticas para todo referencial (ou seja, em qualquer parte do universo, valem as mesmas leis);
2)    O universo é racional, e tal racionalidade é inteligível pelo homem;
3)    As leis naturais são descritas, modeladas, por uma criação abstrata humana: a matemática.
Explico para quem não está familiarizado com essa ciência exata.
Em um universo em que as leis físicas variassem de acordo com a região escolhida, como fazer considerações da formação do universo e das leis (ou da lei) que o rege? Qual delas valeria? Valeriam nas condições próximas do momento inicial? Não haveria estudo da física (nos moldes atuais), se não fosse o pressuposto 1 (nem, tão pouco, arriscaríamos lançar satélites interplanetários de exploração).
Além disso, por qual motivo a construção básica do universo deve ser racionalmente compreensível por alguma inteligência, particularmente pela humana? Sem apostarmos nessa suposição, não haveria motivo para investigar a natureza e postularmos leis para prevermos resultados: estudamos o cosmos por supormos sermos capaz de o entender.
Por fim, qual a validade de modelar matematicamente as leis naturais se não entendêssemos que isso é perfeitamente possível? Talvez tenha sido mero golpe de sorte usar um modelo desse tipo inicialmente, mas como explicar que funcionam como uma precisão avassaladora [5]?
Albert Einstein, diante desse quadro, expressou: “O que é mais incompreensível é que o universo é compreensível”.

Conclusão
Não vamos tirar o mérito da ciência. Reconheçamos que a mesma vem avançando, iluminando lacunas, apresentando respostas para o que era tido como insolúvel e de funcionamento, para alguns, “miraculoso”.
A ciência é a melhor forma disponível para entendermos como o universo foi gerado e funciona.
Assim sendo, não espanta que venha a conhecimento acadêmico as leis (ou a lei, se forem unificadas as conhecidas hoje) da natureza que elucidem como todas as improbabilidades e precisões foram completamente dominadas e o processo direcionado, mostrando, então, uma objetividade e, em consequência, projeto de inteligência singular.
Ora, se não duvidamos, nas comparações em analogia ao que é citado na introdução deste texto, que há objetividade e inteligência deliberada para se chegar nos resultado que ilustrei (montes de pedras e sorteio da loteria), por qual motivo, além de preferência por uma crença individual a revelia da indicação dos fatos, pode-se negar uma objetividade e planejamento na construção do universo?
Lennox pergunta se o conhecimento e compreensão da mecânica de um automóvel em seus mínimos detalhes implicam na descrença de que o veículo tem um projetista (ou uma fábrica que o monte e essa com um projetista, etc); ou, ao contrário, se é mais provável que se afira a genialidade do projetista do automóvel pela qualidade daquilo que constatamos em seu funcionamento.


[1] O cálculo da probabilidade de acerto das seis dezenas sorteadas é realizado por meio de uma combinação simples dos sessenta números, que compõem o universo de sorteio, tomados seis a seis. Tem-se, então, 50.063.860 (cinquenta milhões sessenta e três mil oitocentos e sessenta) modos diferentes de se escolher os seis números de 1 a 60” (http://www.brasilescola.com/matematica/chances-ganhar-na-mega-sena.htm).

[2] O corpo humano adulto tem cerca de 60 trilhões de células (http://super.abril.com.br/saude/corpo-humano-expansao-439301.shtml), mas arredondemos para 100 trilhões, 1014, a fim de facilitar uma comparação. Para tal, também consideremos a Terra com 10 bilhões de pessoas, 1010. Nessas condições enunciadas, é mais fácil encontrar uma só célula, específica, de uma única pessoa, considerando o universo de escolha como 100 trilhões, 1014, de réplicas do nosso planeta, do que acertar as cinco vezes seguidas na mega-sena.

[3] Esse número é maior do que a quantidade de partículas estimadas existente no universo visível, segundo Penrose (uma estimativa, em http://www.redepsi.com.br/portal/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=423, com cálculo passo a passo, é de 1,2 1079).

[4] A história do macaco-chefe e da frase alvo decorre da comparação da ação probabilística do acaso na biologia com a “atividade” descrita pelo matemático Gian-Carlo Rota (http://es.wikipedia.org/wiki/Teorema_de_los_infinitos_monos): “Se o macaco conseguisse dar um toque no teclado a cada nanossegundo, o tempo esperado até ele datilografar toda a peça ‘Hamlet’ é tão longo que a idade estimada do universo é comparativamente insignificante [...] não é um método prático de se escrever peças”. A comparação é feita em termos da natureza, num processo cego ao acaso, produzir as façanhas que levam a vida. Daí, Dawkins eleger frases pequenas e intermediárias (frases alvo), sob supervisão, esta com função de alertar quando uma letra da frase alvo fosse corretamente digitada (a fim de não mais ser mudada tal letra), como os “processos controláveis em pequenas partes” para gerar a obra literária de interesse (além de dispor de um macaco para cada letra da frase).

[5] No citado livro de R Penrose, ele declara: “No primeiro capítulo, sustentei que a estrutura do mundo físico é dependente, muito precisamente, da matemática [...]
A mecânica quântica (...) é também uma teoria extraordinariamente precisa (...) existem efeitos cuja acurácia pode ser calculada em cerca de uma parte em 1011.”.

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