quinta-feira, 26 de abril de 2012

Relação do Cristão com a Ciência

Richard Dawkins, zoólogo, etólogo,evolucionista, e, aparentemente o ateu que mais aparece na vanguarda da militância dos naturalistas/materialista, com várias publicações na área da militância, declara:

Está na moda tornar-se apocalíptico acerca da ameaça para a humanidade apresentada pelo vírus da aids, pelo mal da ‘vaca louca’ e por muitos outras doenças, mas eu acho natural argumentar que a fé constitui um dos grandes males do mundo, comparável ao vírus da varíola, só que mais difícil de erradicar. A fé, sendo uma crença que não se baseia em evidências, é o principal vício de qualquer religião.”





Será? Acho que o Sr Dawkins, ocasionalmente, declara sobre aquilo que acha saber (mas não prova saber). Vejamos.




Um cristão não deve ver a ciência como uma inimiga. Ao contrário, deve perceber a mesma como uma aliada. A ciência estuda a natureza, como as coisas existem, quais os processos que fazem tudo ser como percebemos. A crença (cristã) é (ou deveria ser) uma resposta a evidências. Dentre outras possíveis, cito duas passagens que apoiam essa conclusão: “Mas estes [sinais] foram escritos para que vocês creiam...” – João 20:31; e “Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua própria divindade, têm sido visto claramente, sendo compreendido por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis.” – Romanos 1:20. O que isso nos diz? Que ao estudar a natureza, poderemos observar os atributos invisíveis do seu criador, e, além disso, que o podemos entender por meio destes atributos. Este entendimento será amplo e irrestrito? Improvável, mas O testemunhará.



Note que, em muitos casos, o reducionismo científico é ineficiente: certos estudos não levam ao conhecimento do todo meramente pela análise de partes do mesmo (num paralelismo simples, estudar os tijolos de uma parede não leva ao conhecimento da arquitetura da casa). Assim como pela arquitetura da edificação pode ser especificar a obra, sua técnica de construção e material empregado, a concepção que é aplicada a Deus deve permitir deduzir como o universo é construído. Mas este é assunto para a outra postagem.



Voltando ao ponto: assumindo a premissa de que Deus é onipotente, Ele poderia ter criado o universo de inúmeras formas. Qual Ele usou? Este é o objeto de estudo da ciência.

Por tais motivos, é fundamental que teístas (sobretudo os cristãos) identifiquem idealismos, crenças, contidos em bases de argumentos que, em primeira análise, levam a um suposto confronto entre teísmo e ciência. Isso não é verdadeiro, pois o choque é entre teístas e ateus (materialista ou naturalista), ou melhor, alguns desses (os militantes). A ciência é, muitas vezes, usada para dar crédito (desmerecido) a cosmovisão materialista (militante) em detrimento da cosmovisão teísta. Essa pretendida alegação e relação não encontra fundamento.

Vejamos alguns pontos.

Galilei, Copérnico, Newton: todos são teístas, cristãos (os 2 primeiros até eram amigos de papas). Não raro, são utilizados para embasar um suposto conflito histórico entre ciência e teísmo, em particular, cristianismo.

Copérnico e Galileu fizeram citação contrária quanto ao modelo geocêntrico, o qual era  concebido pela Igreja Católica Apostólica Romana, mas era também o modelo acadêmico científico da época, os quais assumiam de Aristóteles. Na Carta à Senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa da Toscana, Galileu alega que “foram os professores acadêmicos que se lhe opuseram de tal forma a ponto de tentarem influenciar as autoridades eclesiásticas para que elas se manifestassem contra ele” (segundo J C Lennox, em Por que a ciência não consegue enterrar Deus).

A Igreja Católica Apostólica Romana agiu de forma a proteger o modelo geocêntrico de Aristóteles (o que não podemos dizer ser uma atitude digna de palmas), assim como os acadêmicos. Então, não desvirtuemos os acontecimentos daquela época tentando os travesti com um imaginário embate entre religião e ciência. O que houve foi um duro e mortal golpe num paradigma acadêmico da época. Assim, temos uma ignorância ou uma desonestidade intelectual por parte de quem insinua tal confronto (ao menos com as bases que criticamos aqui).

Há aqueles que citam Newton e sua teoria da gravitação como um trunfo da ciência sobre a religião.  Contudo, lendo parte do que Newton nos deixou, verificamos que, em Principia Mathematica, ele cita: “... a ciência moderna deve ter se originado da insistência medieval na racionalidade de Deus [...]. Minha explicação é que a fé na possibilidade da ciência, gerada antes do desenvolvimento da teoria científica moderna, foi uma consequência inconsciente da teologia medieval.”.

Peter Atkins (http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_W._Atkins), professor de química da Universidade de Oxford, no texto abaixo, reconhece que a ciência moderna tem um débito histórico com a religião. Como pode ser lido, ele não é um teísta.

A ciência, o sistema de crenças muito bem fundamentado em conhecimentos reproduzíveis publicamente compartilhados, emergiu da religião. À medida que a ciência foi abandonando sua crisálida para transformar-se na borboleta de hoje, ela conquistou todo o terreno. 
Não há motivo para supor que a ciência não possa tratar de todos os aspectos da existência. Somente os religiosos – entre os quais não incluo apenas os preconceituosos, mas também os mal informados – esperam que exista um canto escuro do universo físico, ou do universo experimental, que a ciência não pode nunca esperar esclarecer.

Verifica-se, assim, que as alegações de suposto conflito histórico carecem de fundamento.
No trecho citado de Atkins “Não há motivo para supor que a ciência não possa tratar de todos os aspectos da existência”, cabe uma observação de Thomas Nagel, professor de filosofia e ateu:
Os propósitos e as intenções de Deus, se é que existe um deus, e a natureza de sua vontade não são assuntos possíveis de uma teoria ou explicação científica. Mas isso não implica que não possa haver comprovação científica pró ou contra a intervenção de uma causa semelhante não regida por uma lei na ordem natural.

Richard Dawkins cita:
Na próxima ocasião em que alguém lhe disser que algo é verdadeiro, por que não lhe responder: ‘Que tipo de evidência disso existe?’? E se não houver uma boa resposta, espero que você pense com muito cuidado antes de acreditar numa só palavra do que está ouvindo.

É um excelente conselho.

Posso afirmar que uma corrente alternada gera um campo magnético associado à mesma. Qualquer cientista da área não discordará desta afirmativa, pois os estudos eliminaram justificativas em contrário.

Quando algo é comprovado cientificamente, pode-se afirmar que se eliminaram justificativas contrárias à comprovação. Qualquer cientista que tenha conhecimento de tal campo, não irá contrariar a assertiva declarada.

Vamos a 2 outras citações e a(s) evidência(s) que as “apoiam”.

Citação 1. Peter Atkins: “A humanidade deve aceitar que a ciência eliminou a justificativa da crença num propósito cósmico, e qualquer sobrevivência desse propósito inspira-se apenas no sentimento.”



Pelas palavras de Atkins, se estiverem corretas, decorre que nenhum cientista discordará da mesma. Contudo, não raramente, deparamos com citações como a de Sir Ghillean Prance (http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=s0009-67252007000200007&script=sci_arttext): 
Acredito há muitos anos que Deus é o grande arquiteto por trás de toda a natureza [...]. Todo os meus estudos científicos a partir daquele tempo confirmaram minha fé. Considero a Bíblia como minha principal fonte de autoridade.






Citação 2. Douglas Futuyama (biólogo evolucionista notável): “Ao juntar a variação não dirigida e sem propósito a processos desprovidos de inteligência e cegos da seleção natural, Darwin tornou supérfluas as explicações espirituais ou teológicas dos processos da vida”.





De forma análoga à anterior, se as palavras de Futuyama estiverem corretas, decorre que nenhum cientista discordará da mesma. O professor da Universidade de Vienna Gerd Müller


diz que: 

Apenas alguns dos processos descritos [...] são tratados pela teoria canônica neodarwinista, que se preocupa principalmente com a frequência de genes em populações e com os fatores responsáveis pela variação e fixação delas. Embora, no nível fenotípico, ela trate das modificações de partes concretas, a teoria não é concebida para explicar nem a origem das partes, nem a organização morfológica, nem a inovação. No mundo neodarwinista, o fator que motiva a mudança morfológica é a seleção natural, que pode explicar a modificação e a perda de partes. Mas a seleção não tem capacidade inovadora: ela elimina ou mantém o que existe. Os aspectos geradores ou ordenadores da evolução morfológica estão assim ausentes da teoria evolucionista.



Desta forma, retomando a citação inicial do ateu R Dawkins  “se não houver uma boa resposta, espero que você pense com muito cuidado antes de acreditar numa só palavra do que está ouvindo”,  mostrou-se que não há evidencias em  dadas citações de militantes ateus.Também espero que sigam o conselho de Dawkins (inclusive o mesmo).




Façamos 2 apontamentos de evidência pró teístas. 



Richard Swinburne, filósofo: 

Não estou postulando em ‘Deus das lacunas’, um deus só para explicar as coisas que a ciência não explicou. Estou postulando um Deus para explicar por que a ciência explica; não nego que a ciência explique, mas postulo Deus para explicar por que a ciência explica. O próprio sucesso da ciência demonstrando-nos como o mundo natural é profundamente ordenado nos apresenta fortes razões para acreditar que há uma causa ainda mais profunda para essa ordem.




Com isso, Swinburne pode alegar que responde Albert Einstein quando o mesmo comenta: “A coisa mais incompreensível acerca do Universo é que ele é compreensível”.



Sir Roger Penrose, matemático, comenta sobre a possibilidade de existência do nosso universo:

Tente imaginar a fase espaço... do universo INTEIRO. Cada ponto dessa fase de espaço representa um diferente modo possível do começo do universo. Precisamos imaginar o Criador segurando um “alfinete” – que deve ser colocado nalgum ponto da fase do espaço. [...] Cada posicionamento diferente do alfinete apresenta um universo diferente. Ora, a precisão necessária para o objetivo do Criador depende da entropia do Universo que é assim criado. Seria relativamente “fácil” produzir um universo de alta entropia, pois nesse caso haveria um grande volume de fase de espaço disponível a ser atingido pelo alfinete. Mas para começar o universo em estado de baixa entropia – para que haja de fato uma segunda lei da termodinâmica – o Criador precisa visar a um volume muito menor de fase de espaço. Quão diminuta deveria ser essa região para que daí resultasse um universo muito parecido com aquele no qual nós de fato vivemos?


Seus cálculos levaram a necessidade de precisão de uma parte em 10 elevado a 10 elevado a 123 (o número 10 elevado a um número que é dado pelo 1 seguido de 123 zeros). Atualmente, este número é maior do que o número de partículas estimadas existentes no universo. Em termos percentuais, isso equivale a 0,0...01% de chance de acertar o objetivo, onde os "três pontos" substituem a seguinte quantidade de zeros: 10 elevado a 123  subtraído de 5 unidades.

Encerrando por aqui, lembro que apenas partes dos ateus, e um universo ainda menor de cientistas, são alvos das críticas aqui dirigidas. Espero, neste texto, ter mostrado que fanatismos por crenças pessoais não são exclusividades de religiosos.

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