sábado, 1 de setembro de 2012

O Grande Projeto



Autores: Stephen Hawking e Leonard Mlodinow.
Ed Nova Fronteira participações S.A.

Síntese: Uma leitura muito agradável, empolgante, simples (para o assunto tratado), rica em ilustrações e com toques de bom humor. É difícil de fazer pausas durante a apreciação da obra. Os autores colocam os leitores a par das mais modernas teorias físicas. Com base nessas, respondem a questões fundamentais da existência.


Mais sobre o livro.



... como podemos compreender o mundo no qual nos encontramos? Como se comporta o universo? Qual a natureza da realidade? De onde veio tudo isso? O universo precisou de um criador?” Com esses questionamentos, os autores levantam a base da busca por respostas que norteiam o livro.
Embora essas perguntas sejam comuns na área da filosofia, Hawking e Mlodinow entendem que a filosofia não acompanhou o desenvolvimento moderno da ciência, da física em particular, e afirmam que os cientistas, e não os filósofos, estão mais aptos a darem tais respostas.
Desde a década de 1920, verificou-se que o senso comum, o bom senso (ao qual se adequa a física desenvolvida por Newton, por exemplo), deixou de ser um trilho na condução das teorias e propostas científicas, uma vez que se verificaram fenômenos que derrubavam qualquer tentativa de explicação que fosse comparável a fenômenos diretamente observáveis (ou seja, verificado dentro da amplitude visível diretamente aos nossos olhos, percebido pelos sentidos). A visão do “senso comum” passou a ser uma percepção amadora, ingênua, da realidade mais profunda. Deste quadro, nasce a mecânica quântica (e a relatividade).
A mecânica quântica reproduz os resultados macros (escalas maiores que moleculares), ou seja, da física apresentada por Newton, e de escalas atômicas e subatômicas. Isso mostra que as teorias desenvolvidas pela humanidade são, até onde sabemos, temporárias, pois estão passíveis de serem superadas por outra teoria mais abrangente e/ou mais precisa (lembra da teoria geocêntrica?).
Será que existe um arcabouço teórico unificado, uma teoria universal definitiva, que dê conta de todos os fenômenos verificáveis e que mostre que as teorias que temos hoje são aproximações, ou frações, dela?
A teoria-M é o único modelo com todas as propriedades que, cremos, deveriam constar numa teoria final.” Essa é a visão pela qual as respostas às perguntas iniciais serão conduzidas, dispensando, segundo os autores, a necessidade de um criador.
O texto segue com um sobrevoo pela evolução racional que nos traz a moderna ciência, passando pela Grécia e seus pensadores, Kepler, Galileu, Descartes, Laplace, Newton, Einstein, dentre outros. Três novas perguntas são apresentadas:
1.    Qual a origem das leis (da natureza)?
2.    Há quaisquer exceções às leis, isto é, milagres?
3.    Há somente um único conjunto possível de leis?
O que posso adiantar sobre as respostas a tais questões, para não estragar sua leitura do livro, é que os autores dispensam a hipótese “Deus” em suas explicações. Alertam ainda que: “Este livro é fundamentado no conceito de determinismo científico...”.
No capitulo 3, apresenta-se a relação entre teorias e realidade: “como sabemos que nós temos a imagem verdadeira da realidade, sem distorções?”. Os autores explicam como a teoria que dispomos implica na percepção que temos àquilo que chamamos de realidade: “Não há conceito de realidade independente de um quadro ou de uma teoria.” (essa característica interdependente entre o que se percebe a teoria utilizada para compreender tal percepção permite uma primeira incursão à teoria da mecânica quântica).
Assim, propõem o “realismo dependente”, onde “é inútil indagar se um modelo é real, apenas se concorda com as observações.”. Isso tem um impacto profundo naquilo que conceituamos como “existente”.
Com mais detalhes, o livro mostra as observações experimentais que levaram à mecânica quântica, aproveitando para, por meio de exemplos (até utilizando de comparações com eventos conhecidos), levar a uma compreensão geral dessa teoria. Em particular, chama atenção para o Princípio da Incerteza e o impacto deste na concepção do mundo subatômico: “Nosso uso de termos probabilísticos para descrever o produto de eventos do quotidiano reflete (...) nossa ignorância sobre certos aspectos dele. As probabilidades na mecânica quântica são diferentes. Elas refletem uma aleatoriedade fundamental na natureza.”. Isso leva a entender que o conceito de passado, como algo definido e imutável, deve ser revisto (ver a experiência da Escolha Retardada): “observações que fizermos de um sistema no presente afetam o seu passado.”.
O texto segue apresentando teoria de campo e alguns aspectos intrigantes da teoria da relatividade. Ao apresentar as quatro forças conhecidas da natureza, também aborda o esforço de unificar as mesmas num só arcabouço teórico, bem como a dificuldade de tal tarefa. Isso conduz à teoria das cordas e, em seguida, à teoria-M.
O conceito de multiverso (múltiplos universos) que emerge da teoria-M é utilizado para explicar a impressionante precisão das constantes físicas que possibilitam as forças que conhecemos (na forma precisa que as constatamos) e, em consequência, toda espécie de fenômeno verificado no universo. Ou seja, considerando inúmeros universos existentes, ao menos em potencial teórico, explica-se o motivo pelo qual o nosso existe em condições tão perfeitas para, bilhões de anos após o surgimento do mesmo, haver humanos para formularem questões sobre existência do próprio universo. Para os autores: “o universo apareceu espontaneamente, começando de todo modo possível.”. No contexto, a “seleção” do universo que vemos é feita de modo análogo à “seleção” que ocorre quando se observa a manifestação de uma dentre várias possibilidades de resultados relacionados à mecânica quântica: “podemos retraçar a história do universo de cima para baixo, ou seja, ir para traz partindo do tempo presente. (...) Criamos a história pela nossa observação, em vez de a história nos criar.”.
A adequação da natureza para a nossa existência é tomada ao avesso, ou seja: “Nosso universo e suas leis parecem seguir um projeto feito sob medida e que, se for para realmente existirmos, deixa pouca margem para alterações.”. Todavia, essa alegação leva os autores a divergir de que isso leva a uma hipotética ação divina, ao contrário do que a maioria de nós suporia.
“... a recente descoberta de que tantas leis naturais têm uma extrema sintonia fina pode levar ao menos alguns de nós de volta à velha ideia de que este grande projeto é obra de algum grande projetista. (...) Essa não é a resposta da ciência moderna.”. Hawking e Mlodinow concluem que o multiverso e, com ele, a sintonia fina das constantes físicas verificadas no nosso universo, pode ser visto como consequência da teoria-M quando esta trata do início do cosmo: “o conceito de multiverso pode explicar a sintonia fina das leis físicas sem necessidade de um criador benevolente que fez o universo em nosso benefício.”.
Do exposto, por fim, os autores concluem pela teoria-M como a “única candidata a uma teoria completa do universo.”. 

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