sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A Queda


Compare as ilustrações que utilizo na gradual construção da Árvore da Vida, quando apresento três triângulos, e da Árvore propriamente dita. Na primeira, todas as Tríades apontam para cima (um dos vértices sobre os outros dois). Na segunda, duas estão invertidas. Isso é proposital é tem uma explicação.

Lembra-se do mito do Pecado Original? Não vou me alonga em termos filosóficos no assunto, mas vou apresentar minhas conclusões. Esta inversão parcial vista nas figuras é fruto de uma postura (voluntário ou induzida) da criação. A representação com todos os triângulos iguais e para cima significa que a criação está voltada para o “alto”, seu Criador. O raciocínio análogo é válido: a inversão de dois triângulos significa o desligamento, ou algo próximo a isto, da criação para com o Criador.

Quando nós, na condição de criaturas, passamos a nos iludir com a assimetria, atiramo-nos em uma ilusão de tal ordem, uma overdose da assimetria, que há uma recusa em buscar a ligação universal. Assim, tem-se uma ruptura com o princípio, a mente que tudo forma.

Há duas consequências para esta nossa atitude. A primeira é a perda de percepção quanto à ligação indissolúvel de causa e efeito, no sentido que estes são fruto de perspectivas de observação. Isto implica em ver Biná e Chochmá, representando a informação e a matéria, de formas distintas e não unidas, como uma remoção de Ketér.

A Árvore da Vida é muito feliz nessa representação, pois, com a inversão da Tríade Intermediária, há espaço para mais uma esfera entre as duas Tríades Superiores. Nesse espaço, alguns desenhos trazem a não-sephirah conhecida como Daat, que significa conhecimento.

O efeito direto desta nova assimetria no universo físico é a existência do tempo, tal e qual o percebemos (clássico e moderno). Para todos os efeitos, Daat é uma força similar às outras que constam na Árvore da Vida. Mas é percebida devido a uma ação que, em primeira análise, poderia não ser tomada pelo homem (como criação). Alguns autores defendem que nós substituímos Deus, representado por Ketér, por um falso Deus, Daat, ao tomar tal decisão.

A outra consequência é mais rara de ser representada em gravuras da Árvore da Vida. Desvinculando causa e efeito de sua ligação natural primeira, os agentes livres da criação (nós, seres-humanos) passamos a admitir que somente os eventos futuros - efeitos - estão relacionados à causa. Com esta interpretação e considerando a variação de agentes e interações existentes em Assiá, num dado instante, o futuro não parece estar escrito.

Desta forma, planos são feitos, desejos alimentados e, assim, a imaginação alça grandes voos. Lembrando que a criação é um produto mental, com nossa “mente pessoal” como uma pequena fração, esta multiplicidade gera um produto, um resíduo. Mas, como pode ser percebida em nossas experiências cotidianas, dentre as várias hipóteses que imaginamos decorrerem de uma determinada situação, uma só é vivenciada por nós. As outras não se cristalizam em Assiá. Grosso modo, tais subprodutos são como corpos sem alma, são cascas. Na cabala, este domínio é denominado por Clipot, cujo significado é, exatamente, cascas.

Há duas representações clássicas para Clipot nas ilustrações que a adotam na Árvore da Vida. Uma configura uma sombra por trás, ou abaixo, de Malchut. A outra exibe uma sombra de todas as 10 sephirot, uma Árvore de Sombras.

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