domingo, 16 de setembro de 2012

Por que a ciência não consegue enterrar Deus


Por John C Lennox.
Editado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.




Opinião
Um livro empolgante em sua leitura, bem escrito, com bons argumentos e referências. Não foge dos embates principais, apresentando soluções solidamente elaboradas para os pontos que muitos ateus apontam como base para não se crer em Deus. De quebra, rebate, com bom humor e inteligência várias das construções intelectuais e citações de famoso ateu Richard Dawkins (dentre outros). Uma obra para protestantes e católicos... ou melhor: teístas ou ateus.


Mais sobre o livro

Por que existe algo em vez de nada?

É com a apresentação de respostas a perguntas como esta, as quais são a base de todas as dúvidas, que o autor direciona sua obra. Lennox argumenta, utilizando-se de bons fundamentos, que a ciência nasce no seio religioso, sobretudo no cristianismo. Ele mostra como cientistas que construíram e alavancaram o nascedouro da ciência tinham a religião como um pilar pessoal e, até, aponta onde se verifica na Bíblia incentivo à busca por conhecimento da natureza intima da existência (física). Sobretudo, a ciência nasce pela crença, pelo sentimento, de que há um racionalismo por traz dos eventos que observamos no universo e, ainda, que tal construção inteligente é passível de ser por nós, humanos, entendida.

Com estrema habilidade, mostra que, diferente do que alguns ateus gostam de declarar, a ciência não leva ao ateísmo, mas sim essa é usada por parte deles numa apropriação indevida.

Há, de fato, cientistas que estão numa cruzada contra a religião e Deus, mas isso não significa que a ciência esteja em tal cruzada.

Para isso ficar claro, Lennox afirma sobre sua obra: “A questão central neste livro, no fim das contas, é, em essência, uma questão de visão de mundo: que cosmovisão se coaduna melhor com a ciência – o teísmo ou o ateísmo? A ciência sepultou ou não Deus? Vejamos aonde as evidências vão dar.”

Diante da argumentação de R Dawkins de que toda fé é uma fé cega, o autor argumenta (e mostra o motivo) de que “a fé é uma resposta a evidências, não um alegrar-se na ausência de evidências”.

O livro percorre caminhos que, para alguns, seriam espinhosos, como: a relação de Galileu com a Igreja Católica Romana; e o debate Huxley-Wilberforce, em Oxford.

Lennox mostra a militância radical ateia, a qual gosta de se apropriar da ciência para, a qualquer custo, descartar uma possível hipótese de existência de Deus. Isso fica claro, por exemplo, em citações como de Richard Lewontin, geneticista da Universidade de Harvard: “Não é que os métodos e as instituições científicas de algum modo nos obriguem a aceitar uma explicação material do mundo dos fenômenos, a criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações materiais, por mais contra intuitivas que sejam, por mais difíceis de compreender que sejam para os não iniciados. (...) Além disso, o materialismo é absoluto, pois não podemos permitir um pé divino na porta.” Isso não é ciência, mas cientificismo.

O autor chama atenção para o fato de que “não deveríamos confundir os mecanismos pelos quais o Universo funciona nem com sua causa nem com aquele que o sustenta.”.

Talvez o melhor resumo do livro seja uma citação de Richard Swinburne: “Não estou postulando um ‘Deus das lacunas’, um deus só para explicar as coisas que a ciência não explicou. Estou postulando um Deus para explicar por que a ciência explica; não nego que a ciência explique, mas postulo Deus para explicar por que a ciência explica.”.

Essa postura se choca coma opinião de parte dos ateus, em especial de R Dawkins, de que a religião é uma espécie de alternativa a aquilo que a ciência vem explicando.

A obra percorre, ainda o problema da existência da matéria, da vida na Terra, da mente, bem como da sintonia fina das constantes cosmológicas e do multiverso. Em alguns dos contra-argumentos utilizados para desmontar “teses” ateístas, Lennox recorre à matemática para apontar diversas improbabilidades.

Um capítulo muito interessante é dedicado à informação e à incerteza. Achei todos os argumentos de Lennox bem elaborados e, até, surpreendentes. A habilidade que ele se utilizada da teoria da informação para demonstrar sua argumentação é arrasadora. Essa linha de raciocínio, de forma direta ou indireta, leva a enxergar certos ridículos, como fica claro no capítulo intitulado A Máquina dos Macacos (que coloca, novamente, R Dawkins em maus lençóis).

Eu diria, ainda, que uma das grandes evidências que o livro aponta está resumida na citação: “... um materialismo a priori pode produzir uma atitude profundamente anticientífica – uma relutância em seguir as provas aonde elas conduzem, apenas por não gostar das implicações de fazê-lo.”.

Deixo, por fim, uma citação de Lennox na obra aqui comentada: “Argumentar que as leis da natureza impossibilitam nossa crença na existência de Deus e em sua interferência no Universo é claramente uma falácia. Seria como alegar que o entendimento das leis que regem o comportamento do motor de combustão interna impossibilita a crença de que o projetista do carro, ou um de seus mecânicos, pudesse interferir ou interferisse, removendo a tampa do cabeçote.”.

Mais comentários na Folha.

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