sábado, 6 de outubro de 2012

Eventos


O universo é feito de processos, não de coisas.”
Lee Smolin

Os hebreus antigos não usavam a expressão “eu sou” – Ehyeh (em dadas traduções). Esta era exclusivamente atribuída a Deus, aquele que “é”, imutável e perfeito. Os homens eram considerados “não são”: estão em aprendizado, em eterna mudança. Estes pensamentos são evidentes na época em que Jesus viveu, pois um dos ditos que mais escandalizou a sociedade dos hebreus, sobretudo os sacerdotes daquela época, foi a afirmativa do rabino nazareno: “Estou lhes dizendo antes que aconteça, a fim de que, quando acontecer, vocês creiam que Eu Sou.” (João 13-19).

Uma análise simples, física e psicológica, mostra que de fato nós não somos, mas estamos. Nosso corpo é alterado através do tempo em muitos sentidos, inclusive na troca dos átomos: dos que nos compõem hoje, poucos restarão em 15 anos, e, talvez, nenhum em 30 anos. Nossa mente também muda, transforma-se: a cada informação e experiência que acumulamos a forma de analisarmos e reagirmos é redefinida. Analisando o que esperávamos da vida ou algumas reações nossas de 10 anos atrás, verificamos que há divergência com o momento presente. Há um dinamismo implacável na vida.

Isso é percebido inclusive na descrição pessoal. Se alguém quiser conhecer uma pessoa com profundidade, as características físicas pouco serão úteis. Contudo, como ela age e pensa é indispensável. As experiências e atitudes que o indivíduo tomou frente aos problemas, nos momentos mais marcantes da vida dele, definiram a personalidade e os traços que permitem outros conhecê-lo. Um grande amigo(a) é aquele(a) que você conhece bem, ou assim pensa, e cuja atitudes lhe agradam. Conhecer bem uma pessoa raramente é sinônimo de saber quais são suas características físicas.

Fazendo uma análise no tempo, com raríssimas exceções, os personagens histórico ficaram marcados por seus atos, pelas atitudes que tomaram, ou deixaram de tomar, na condução da vida que abraçaram.

No universo, algo similar acontece. Nosso planeta gira sobre si mesmo e em volta do sol. Os outros planetas do sistema solar também giram ao redor desse. A nossa estrela, assim como muitas outras, gira orbitando o centro de nossa galáxia. A Via Láctea se move no espaço, junto com bilhões de outras galáxias. Existem os aglomerados de galáxias, que também estão em movimento. O próprio tecido do espaço-tempo é dinâmico e está em expansão acelerada, segundo modernas observações.

Para contarmos a história do nosso universo, definir posições e aparência de astros celestes não é suficiente. Tem-se que apresentar os eventos, os movimentos dos astros, as explosões e implosões que iluminam o céu. Retratar a riqueza do dinamismo desde o Big Bang é fundamental na descrição de um universo que tem como constância a eterna mudança.

Posto assim, cito com admiração os hebreus, pois, há milênios, sabiam que não “somos” e sim “estamos”. O imutável, perfeito, é atributo de Deus, não do universo que interagimos.

Eventos e dinamismos são tão importantes em nosso universo que vemos e interpretamos segundo aquilo que vivenciamos. Esta dedução não é aplicável somente ao caráter psicológico, como análise segundo os valores que adquirimos na vida. Espaço, tempo, massa, de acordo com a teoria da relatividade e experiências correlacionadas a essa, dependem do observador e sua relação, em termos de movimento e aceleração, com o que está sendo observado. Para dois observadores com movimento relativo entre si, eventos simultâneos para um pode não o ser para o outro.


Na física quântica, o comportamento de um experimento pode variar como partícula ou onda conforme se observa o mesmo. A maneira que se escolhe fazer a medição é decidida pelo cientista.

Em resumo, pode-se dizer que os eventos, as correlações e as interações, são fundamentais para descrever a nós e o universo físico. Além disso, é a mudança de relação daquilo que descreve o espaço, ou seja, da matéria e energia, que origina o tempo.

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