quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Liberdade



Mágica é qualquer tecnologia suficientemente avançada.
Arthur C Clarke

Algo de suma importância precisa ser abordado aqui: a liberdade. O mito da criação judaico-cristão lança a liberdade humana como um presente precioso que Deus respeita e cultiva no homem.

Adotando uma interpretação próxima a do professorAmit Goswami, quando ele diz que a realidade é fruto da decisão do homem, ou melhor, da mente única, podemos entender o quão fundamental é tal liberdade para a existência do mundo que partilhamos.

As experiências científicas da dupla fenda e da escolha retardada indicam que o ato de medir traz algo do “quântico” para o “clássico”. Posição, tempo e espaço são “nuvens” de probabilidade em termos subatômicos. O princípioda incerteza mostra a natureza flutuante da “matéria”. As equações da mecânica quântica, em uma de suas mais famosas e aceitas interpretações, aponta para a sobreposições de estados: a coexistência de múltiplas possibilidades, com probabilidades diferentes para cada uma destas. Só uma será existirá na medição.

Veja a importância deste comportamento. A ideia de que, a nível básico físico, existe um mar de probabilidades que constitui a realidade leva o conceito de “liberdade do homem” a um patamar nunca imaginado. É como se a base da matéria fosse uma massa pronta para ser trabalhada a gosto de seu modelador, como argila nas mãos de um escultor.

Segundo os cálculos da teoria das cordas, se não existisse tal flutuação, se não existisse a incerteza - resultando em intensa agitação a nível subatômico - as energias da corda fundamental corresponderiam a uma massa de 10 bilhões de bilhões (10 elevado a 19) de vezes maior que de um próton. Detalhe: o próton é composto por três quarks (fundamentais).
O que isso quer dizer? Significa que sem esta flutuação o universo físico estaria longe de ser como o conhecemos, provavelmente nem existiria. O nível de energia mínimo da matéria seria absurdamente alto, causando um colapso gravitacional. Em suma, a liberdade ampla e irrestrita é parte da natureza da matéria porque sem ela as coisas não existiriam como as conhecemos. O mundo das divisões, do limite, do “eu” e “você” precisa da liberdade para existir mesmo nos seus alicerces mais básicos.

Comecei esta seção remetendo a interpretação do mito judaico-cristão da criação. Ainda neste, quero expor que me alinho com aqueles que consideram a criação como um ser consciente. A escala gradual que apresentei descreve como saímos de energias poderosíssimas e chegamos a um nível de existência onde a multiplicidade é plena e passa a dominar as relações. Pode-se interpretar estes planos conscientes da criação como deuses: seres de grande poder capazes de moldar a realidade onde vivem.

Quando é citada a criação do homem no mito bíblico, fala-se de um ser do qual todos derivamos: a mente única que molda o universo, segundo Goswami. Importante: não vejo Deus, o Criador Imanifesto, o nada cabalístico, como aquele que molda esta realidade física que experimentamos. Minha interpretação é de que o homem molda esta realidade.

Nesta concepção, a liberdade dada por Deus ao homem se manifesta em todos os níveis. Isso explica o princípio da incerteza. A Árvore da Vida é o homem: imagem e semelhança do Criador. Se cada “tijolo” básico da matéria é uma percepção desta estrutura básica da criação, a liberdade de mudar seu estado, a qualquer momento, é inerente também à existência do mundo subatômico: fótons, elétrons, quarks, etc. No nível elementar de nossa realidade física, essa identidade do homem com a estrutura de seu universo impede a separação da influência do cientista sobre o experimento conduzido.

Sem a liberdade para a criação, a multiplicidade não seria possível: o universo entraria em colapso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário