domingo, 1 de dezembro de 2013

A QUEDA DA METAFÍSICA MATERIALISTA

A separação institucional entre a ciência convencional e a espiritualidade teve início no Ocidente, no século XVII, quando o filósofoRené Descartes dividiu a realidade em mente (o âmbito da religião) e matéria (o âmbito da ciência). Essa divisão se difundiu pela Ásia com o domínio britânico do Oriente, nos séculos XVIII e XIX. Há décadas os materialistas objetivistas vêm tentando subjugar o território espiritual e procurando reduzir o subjetivismo a um epifenômeno emergente da matéria e das interações materiais. Como resultado, os filósofos espiritualistas, em especial no Ocidente, assumiram uma posição puramente defensiva aceitando conformadamente a fatia cartesiana que lhe competia. Entretanto, o paradigma separatista da ciência convencional, aperfeiçoado por Galileu Galilei, Johannes Kepler, Pierre Simon Laplace e Isaac Newton deu lugar, no século XX, a um novo paradigma: a Física Quântica. Essa nova concepção abriu uma janela no muro divisório que separava a ciência da espiritualidade.
Se a ciência convencional comprometeu a credibilidade das tradições espirituais e as doutrinas a elas associadas, ao fornecer uma outra e viável visão de mundo, realista e materialista, que explica os fenômenos sem se basear em conceitos metafísicos de nenhuma espécies, por outro lado, a física quântica comprometeu a credibilidade da ciência convencional invalidando seus principais dogmas. Para compreender essa façanha da física quântica, é preciso examinar quais foram os dogmas da ciência convencional refutados por ela. 
Durante os trezentos e cinqüenta anos de sua história, a ciência convencional, realista e materialista, adotou os seguintes dogmas: 

1. CONTINUIDADE: Com o determinismo causal, veio a hipótese de que toda mudança, ou todo o movimento, é contínuo.

2. DETERMINISMO CAUSAL: O mundo é uma máquina determinada, de mecanismo semelhante a um relógio. Toda mudança, ou todo movimento, de um objeto é determinada pelas condições iniciais do objeto (posição e velocidade) e pelas forças materiais que agem sobra ele. René Descartes, que dividiu a realidade num mundo dual de mente e matéria, antecipou o determinismo. Isaac Newton desenvolveu a física correspondente, mas foi o matemático francês Pierre Simon Laplace quem enunciou o determinismo de modo claro pela primeira vez. Laplace escreveu um livro sobre mecânica celeste, talvez o primeiro livro do gênero que não mencionava Deus como agente causal. Isso provocou um escândalo na corte francesa. Até o imperador Napoleão Bonaparte ficou intrigado e acabou intimidando Laplace para lhe perguntar: “Porque não mencionou Deus no seu livro?” Diz-se que Laplace respondeu: "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là, majesté". (Eu não precisei de tal hipótese, majestade).

3. LOCALIDADE: Todas as causas (e seus efeitos) são locais, o que significa que se propagam no espaço com uma velocidade finita, durante uma extensão finita no tempo. Em outras palavras, é impossível uma ação simultânea à distância. Einsteindescobriu que os objetos materiais estão sujeitos a um limite de velocidade, a velocidade da luz, que é cerca de 300.000 quilômetros por segundo. Einstein, por isso, pode ser considerado o pai desta doutrina específica.

4. OBJETIVIDADE FORTE: O mundo material é independente de uma consciência, ou seja, de nós, observadores. Esta ideia tem raízes no pensamento de Aristóteles.

5. MONISMO MATERIALISTA E REDUCIONISMO: Tudo e feito de matéria (átomos ou partículas elementares) e de seus correlatos (campos de energia e de força), e todo fenômeno tem uma origem material a que pode ser reduzido. O físico Richard Feynmandisse que, se tudo fosse destruído e nós pudéssemos preservar uma única ideia da civilização científica de hoje, essa ideia seria a de que “tudo é feito de átomos”, tão forte era a sua crença na ideia de monismo materialista.

6. EPIFENOMENALISMO: Todos os fenômenos subjetivos (a própria consciência, na verdade) são epifenômenos da matéria. Epi significa secundário; epifenômeno refere-se, portanto aos efeitos secundários das interações materiais subjacentes, efeitos que não têm, em si mesmos, nenhuma eficácia causal. O epifenomenalismo é o desdobramento evidente e necessário do monismo materialista. De acordo com essa concepção, todas as causas fluem “de baixo para cima” começando das partículas elementares da matéria, numa hierarquia simples: as partículas elementares formam átomos, os átomos formam moléculas, as moléculas formam células vivas, as células (neurônios) formam o cérebro. Em cada nível, manifestam-se novos fenômenos (a vida, no nível celular, e a consciência, no nível do cérebro), mas eles são, na verdade, epifenômenos, redutíveis às partículas elementares e às suas interações. Toda causação é uma causação ascendente.

Note que, em última analise, nenhuma destas doutrinas é comprovável. Como se prova experimentalmente que todos os fenômenos são materiais? Como se demonstra, por exemplo, que a consciência é um fenômeno material? Além disso, nós ainda não estudamos “todos” os fenômenos. Algumas destas doutrinas realistas materialistas, como a objetividade, o determinismo e o epifenomenalismo, são um insulto à nossa inteligência e ao nosso bom senso: nós temos, inegavelmente, experiências subjetivas; nós somos, inegavelmente, conscientes; e nós presumimos, certamente, possuir livre arbítrio. 
Na verdade, por que pessoas inteligentes levam estes dogmas a sério? Mesmo muitos físicos quânticos estão presos ao pensamento realista materialista e tentam, em vão, minimizar a radicalidade da mensagem do quantum. Supõe-se, de algum modo, que o sucesso da ciência e de seu produto, a tecnologia, está associado à validade dessas doutrinas. A ciência moderna se desenvolveu sobretudo no Ocidente, onde os primeiros cientistas precisaram literalmente se arriscar a ser perseguidos pelos dogmas religiosos para estudar a natureza. Mas, agora que a ciência tem autonomia, por que continuar com a guerra dos dogmas se o nosso objetivo é a verdade, e não saber qual dogma está certo? Nós precisamos abandonar a aceitação, por hábito, das doutrinas realistas materialistas, pois francamente, a mecânica quântica provou que a maioria delas estão completamente erradas, e lançou sérias dúvidas sobre a realidade das demais. A continuidade, o determinismo e a localidade mostram-se inteiramente erradas. A objetividade, o epifenomenalismo e o monismo materialista e reducionista estão sob forte ataque. Iniciemos nossa discussão sobre a física quântica examinando como os princípios experimentalmente estabelecidos da nova física negam esses dogmas.

ALÉM DA CONTINUIDADE

A continuidade é, no fundo, um pressuposto científico derivado do senso comum, e um pressuposto necessário. Olhe para o ambiente em torno de você e depois feche os olhos por alguns segundos. Ao abrir os olhos, você acha que está vendo o mesmo ambiente (ou supondo que ele pareça o mesmo)? Se a sua resposta é sim, você está tomando a continuidade como um pressuposto, mas isso pode ou não ser verdade. Os cientistas se deixaram embalar pelo pressuposto da continuidade porque os fenômenos do mundo macroscópico, mesmo sob escrutínio científico, não parecem, de modo geral, violar esse pressuposto. Além disso, o pressuposto da continuidade nos permite estudar a física de modo matemático, objetivo e lógico. Mas a física quântica, desde o seu próprio início, vem massacrando impiedosamente a doutrina da continuidade. 
Max Planck, o físico alemão que descobriu a ideia de quantum, no final do século XX, percebeu que a energia não é trocada de modo contínuo, mas em “pedaços finitos”, um por um. Um quantum de energia, como ele o denominava, é a menor quantidade de energia que dois corpos podem trocar. Por outro lado, o físico Niels Bohr desenvolveu um modelo de átomo no qual a ideia de movimento “descontínuo” era bastante nítida – embora a imagem fosse desconcertante. Um átomo consiste de elétrons que se movem em torno de um núcleo atômico. De acordo com a física newtoniana e a doutrina da continuidade, os elétrons, ao girar, devem emitir luz continuamente; neste caso eles vão perder energia e órbita aos poucos e, no fim, teriam que cair no núcleo. Portanto, o átomo “clássico”, o que obedece ao princípio da continuidade, não é estável – e isso contrasta com as experiências que sempre mostram o átomo estável. Niels Bohr percebeu que o átomo “é” estável. E é estável porque os elétrons não emitem luz continuamente, mas apenas quando saltam de uma órbita superior para uma inferior. Quando estão na órbita mais baixa de todas (e não há mais órbitas inferiores para as quais saltar) o átomo, finalmente, se estabiliza. Mas pense nas conseqüências disso, em relação ao salto quântico, para que esta teoria funcione! Bohr precisou adotar o pressuposto de que as órbitas são os únicos lugares onde os elétrons podem estar; eles são proibidos de estar “entre as órbitas”. Se é assim, como um elétron salta de uma órbita para outra? Ele simplesmente “desaparece” de uma órbita e “aparece” na outra, sem percorrer o espaço entre elas em momento algum. Você consegue imaginar alguém saltando de um degrau mais alto de uma escada para um degrau mais baixo sem passar pelo espaço entre eles? Esta é precisamente a “imagem” do salto quântico segundo Bohr.
A descoberta da mecânica quântica, mais de uma década depois de Bohr ter desenvolvido sua teoria, revelou que a capacidade do elétron saltar órbitas tem a sua origem na natureza de onda; os elétrons são ondas de probabilidade. Quando nós estamos observando um elétron atômico, ele se torna, devido à sua interação com o campo eletromagnético, uma superposição de localizações em duas ou mais órbitas ao mesmo tempo – ainda que em termos de possibilidades. Quando nós observamos o elétron, a possibilidade de que ele esteja em dois (ou mais) lugares se converte no “ato” de estar momentaneamente num único lugar – e, ao mesmo tempo, um quantum de luz é emitido. Este colapso da onda de possibilidade do elétron no elétron “real” que nós vemos se dá instantaneamente. É descontínuo; não existe um colapso local, “no espaço”, a uma velocidade finita, num período de tempo finito. A descontinuidade do salto quântico permanece.
Erwin Schrödinger foi o co-descobridor da nova mecânica quântica, em especial da equação a que as ondas de possibilidades quânticas (chamadas, em linguagem mais formal, de “funções de onda” ou “superposições coerentes”) obedecem. Como estava lidando com ondas, que são um fenômeno supostamente contínuo, Schrödinger pensou de início ter eliminado da física a descontinuidade. Que pena! Quando ele visitou Bohr em Copenhague, Bohr lhe mostrou que não era bem assim. Schrödinger ficou tão chateado com a lógica inegável de Bohr que desabafou: “Se eu soubesse que estes saltos quânticos descontínuos eram de verdade, eu jamais teria descoberto a mecânica quântica”. 
James Frank e Gustav Hertz providenciaram, há muito tempo, a prova experimental de que as energias atômicas existem como níveis de energia descontínuos, e de que não é possível qualquer variação de energia do elétron entre estes valores discretos. A existência de uma descontinuidade espacial no salto quântico do elétron revela-se melhor no fenômeno do “Tunelamento Quântico”, ou "Penetração de Barreira", observado, por exemplo, nos transistores, que demonstra a capacidade do elétron de transpor uma barreira energeticamente impenetrável (classicamente falando). O elétron quântico tem esta capacidade porque é descontínuo; ele simplesmente desaparece de um lado da barreira e reaparece do outro lado, sem jamais passar pela barreira (Tunelamento, portanto, é um nome incorreto para este fenômeno, porque não há nenhum Túnel, por onde o elétron possa atravessar). Portanto, o dogma da continuidade perdeu completamente a sua validade!
Já derrubamos um dogma da ciência convencional, faltam os outros!

2. ALÉM DO DETERMINISMO CAUSAL: PROBABILIDADES E INCERTEZAS

O físico Max Born foi o primeiro a interpretar os objetos quânticos como “Ondas de Probabilidades” e postulou: “O quadrado de sua amplitude de onda [valor máximo da perturbação de onda] fornece a possibilidade de se encontrar o objeto numa situação determinada”.  Ao medir a onda de probabilidade de um elétron (chamada tecnicamente de “pacote de onda”), nós encontramos o elétron às vezes aqui, às vezes ali. No decurso de um grande número de experimentos, as probabilidades de se encontrar o elétron nas diversas posições vão compondo uma distribuição no familiar formato de “curva de sino”. O que isso quer dizer? Quer dizer que o comportamento do elétron é probabilístico, ou seja, que nós só podemos prever a probabilidade de o elétron estar aqui e ali, mas não a sua posição exata! Se não é possível prever as coisas com exatidão, onde foi parar o determinismo? O determinismo está totalmente fora de questão! Werner Heisenberg, o outro co-descobridor da mecânica quântica, ilustrou a indeterminação do mundo físico com o Princípio da Incerteza: não é possível medir simultaneamente, com precisão absoluta, a posição e a velocidade de um objeto quântico.
As distribuições em formato de curva de sino para as posições do elétron propiciaram uma visão quantitativa do princípio da incerteza. Da mesma forma, se nós representarmos a probabilidade para a velocidade, ou para o momentum (que é a massa multiplicada pela velocidade), teremos mais uma curva de sino. Cada uma destas curvas define um espectro, uma margem de desvio da média a partir de um valor mais provável (o valor representado pela curva do ápice do sino). Estas margens definem as incertezas das quantidades descritas pelas distribuições da probabilidade. A curva de sino da posição fornece a incerteza da posição; a curva de sino do momentum define a incerteza do momentum.
Mas é possível enunciar a relação de incertezas de Heisenberg de modo quantitativo: “O produto das incertezas da posição e do momentum é maior ou igual a uma constante da natureza, designada como h”. Esta constante (“h”) havia sido descoberta anteriormente por Max Planck, que a denominou quantum de ação. Esta lei quantitativa foi comprovada por inúmeros experimentos.
Qual a importância do princípio da incerteza? Ele revela que não é possível determinar a posição e o momentum (velocidade) simultaneamente, com exatidão absoluta; portanto, nunca é possível determinar aqueles tão cobiçados valores iniciais do determinismo newtoniano: a posição inicial e a velocidade inicial. E, sem valores iniciais exatos, é impossível prever as trajetórias dos objetos em movimento, mesmo com um conhecimento exato das forças causais. Deste modo, no campo de aplicabilidade da mecânica quântica, as leis do movimento de Newton estão completamente erradas. Não há nada que possa recompor o determinismo causal depois desta enorme queda; a incerteza prevalece!
Mas é preciso fazer uma observação importante sobre a constante h de Planck: o princípio da incerteza deixa claro que estabelece uma escala natural, a escala em que os efeitos quânticos são normalmente grandes. O que acontece, simplesmente, é que h é uma quantidade tão pequena, camuflando, assim, os efeitos quânticos (a incerteza e a natureza da onda de probabilidade) da maioria dos objetos macroscópicos. A onda de probabilidade de objetos macroscópicos se expande, sim, no intervalo entre duas observações. Mas se expande tão lentamente que só é observável a escalas de tempo comparáveis à idade do nosso universo. Mesmo assim, não se iluda: até os objetos macroscópicos são ondas de probabilidades quânticas e realmente se expandem. Recentemente, graças à precisão na observação que a tecnologia do laser hoje torna possível, um aparelho de uma tonelada foi registrado se expandindo num valor infinitesimal de centímetro, num curtíssimo espaço de tempo.
Já derrubamos mais um dogma da ciência convencional, desta vez o do determinismo, mais ainda faltam os outros.

3. ALÉM DA LOCALIDADE: NÃO-LOCALIDADE QUÂNTICA E TRANSCENDÊNCIA

Por que o pressuposto as localidade é tão importante para a ciência convencional? Imagine que você está diante de uma fonte de água, e que a água, de repente, começa a ir em direção à você e a molhar você. Talvez tenha havido uma turbulência no fluxo da água, ou talvez uma pequena rajada de vento. É possível estudar a situação, e talvez até descrever um trabalho sobre a teoria do caos em ação. Mas, suponha que alguém tenha tossido em São Paulo e provocado um movimento da água em Manaus! Isso é possível; mas é possível fazer ciência nestas circunstâncias? Claro que não! A ciência convencional acolheu calorosamente a confirmação do pressuposto da localidade por Einstein, com a sua teoria da relatividade. Essa teoria nos deu a velocidade da luz como limite da velocidade dos objetos materiais. Segundo este pressuposto, nenhuma influência, no espaço e no tempo, jamais atinge uma velocidade superior à da luz. Por isso, pressupõe-se que todas as influências são locais e demoram uma certa extensão de tempo para percorrer uma certa extensão de espaço – isso é “velocidade”. Esse pressuposto nos permite investigar quais são as influências relevantes para cada situação específica. Mas a mecânica quântica viola a doutrina da localidade. Na mecânica quântica, o colapso descontínuo de uma onda de probabilidade em expansão é instantâneo e, portanto, não-local.
À primeira vista, a não-localidade quântica pareceu pura teoria; como se pode comprovar por experimentos que um objeto realmente se prolonga por distâncias incomensuráveis, em possibilidades, mas sofre um colapso instantaneamente, num ponto atual, quando fazemos a medição? Graças ao trabalho dos físicos David Bohm e John Bell, é possível conceber sistemas quânticos correlacionados não-localmente. Partes desses sistemas podem se distanciar muito, em possibilidades, umas das outras; mesmo assim, quando nós causamos um colapso numa parte, ou mensurá-la, a outra parte sobre um colapso instantaneamente, num estado que denuncia sua secreta correlação não-local (Bohm 1951; Bell 1965). Considere, por exemplo, dois elétrons correlacionados, de início juntos, mas depois se movendo em direções opostas. Quando um deles sofre um colapso num estado em que o indicador aponta “para cima”, sempre se encontra o outro prostrado num estado em que o mesmo indicador aponta “para baixo”. Os elétrons correlacionados dançam claramente ao sabor da mesma música, instantaneamente e sem nenhum sinal de localidade.
É importante que se diga que não é preciso enxergar uma violação da teoria da relatividade de Einstein neste colapso não local por duas razões: primeiro, porque velocidade e de simultaneidade são grandezas físicas diferentes e; segundo, porque as ondas de probabilidades equivalem a uma potência transcendente, num domínio que está fora do espaço e do tempo. A influência não-local é uma influência transcendente; ela influencia a realidade manifesta, mas sem envolver sinais no espaço tempo, ou seja, uma influência não-local opera fora do espaço/tempo, mas tem influência dentro do espaço/tempo. O físico Alain Aspect e seus colaboradores, que comprovaram experimentalmente a correlação não-local entre objetos quânticos (Aspect et al. 1982), foram os primeiros a desenvolver o que hoje nós saudamos como “metafísica experimental”. Eles não apenas provaram a não-localidade quântica como também confirmaram a existência de um domínio de realidade transcendente, para além do domínio material do espaço/tempo. Isso contradiz completamente o pressuposto do realismo materialista, de um mundo material único, e confirmaram diretamente a ideia de transcendência encontrada em todas as tradições espirituais.
Já derrubamos a metade dos dogmas da física clássica.
Graças à física quântica, nós temos provas empíricas diretas de que a continuidade, o determinismo e a localidade não se sustentam.

4. ALÉM DA OBJETIVIDADE, 5. DO MATERIALISMO E 6. DO EPIFENOMENALISMO

O mundo é independente de nós? Ou o que vemos depende de alguma maneira crucial, de nós, de nossas escolhas? O físicoNiels Bohr nos ajudou a perceber que temos um papel crucial na configuração da realidade. Os objetos quânticos são ondas transcendentes em potência, mas, quando observados, sofrem um colapso como partículas localizadas. De que modo é possível averiguar experimentalmente sua natureza de onda na transcendência? É fácil, disse Bohr. Observe-os por meio de um aparato de medição de onda – um aparato que põe em foco suas propriedades como ondas. Uma onda pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Assim, se nós fizermos com que dois elétrons passem por uma tela com duas fendas, eles vão atravessar ambas as fendas como ondas de probabilidades, criando duas ondas em probabilidade. As duas ondas, agora, vão se recombinar e interferir uma com a outra. Detectando as duas ondas numa tela fluorescente, atrás da tela de dupla fenda, é possível ver o efeito dessa bifurcação e dessa interferência. Em alguns pontos da tela fluorescente, as duas ondas, provenientes das duas fendas, vão chegar em fase idêntica; serão os pontos em que elas vão se intensificar mutuamente, aumentando a probabilidade de os elétrons se manifestarem ali. Entre estas duas franjas claras, haverá pontos em que as duas ondas vão checar mutuamente defasadas uma em relação à outra e cancelar-se mutuamente, produzindo uma probabilidade zero e franjas escuras. Este padrão de fendas claras e escuras alternadas chama-se padrão de interferência, e sua ocorrência garante que estamos diante de um fenômeno de onda. Sim, pois, se os elétrons fossem partículas, como bolas de gude, eles só chegariam à tela nos pontos localizados atrás das duas fendas.
Perceba, no entanto, a sutileza. Na sua modalidade onda, os elétrons são ondas de probabilidades e possibilidades. Um elétron sozinho, como uma partícula, sempre se manifesta localizado num único lugar; mas, se observarmos um grane número de elétrons formando um padrão de interferência, podemos concluir que todo elétrons é uma onda; cada um deles é capaz de atravessar ambas as fendas e interferir consigo mesmo.
Você pode questionar: talvez os elétrons atravessem uma única fenda e de alguma maneira se desviem, ao se chocar com a borda da fenda, de modo que eles vão parar ocasionalmente em pontos estranhos da tela fluorescente e fazem surgir uma interferência apenas aparente. Mas adivinhe o que acontece! Quando nós tentamos ver qual das duas fendas um elétron realmente atravessa, nossa tentativa faz com que o elétron sofra um colapso como partícula numa das fendas, e ele aparece exatamente onde se esperava – atrás da fenda, e em nenhum outro lugar. O padrão de interferência desaparece. Niels Bohr esclarece que agora estamos observando os elétrons com um “aparato de medição de partículas”. Nossa intenção de localizar a trajetória do elétron resulta em transformá-lo em partícula. Veja só! A natureza de onda e a natureza de partícula dos objetos quânticos são complementares; a natureza de onda é transcendente e a natureza de partícula é imanente. São complementares também no sentido experimental: só é possível observar, num dado esquema experimental, uma das naturezas.
“Um elétron é uma onda?” “Sim”, diz Niels Bohr, “É uma onda se você observar por um aparato de onda. E não será uma onda se você observar por um aparato de medição de partículas". Depende de como você observa! Você escolhe a realidade de acordo com o modo como a encara. A realidade independe de como você a encara? Como ela pode ser? Você escolhe como o elétron vai se revelar ao escolher o esquema experimental. A natureza da matéria é independente de você, como exige a doutrina da objetividade forte? Não, claro que não!
Este não é o único contexto em que a consciência escolhe a realidade. Ao passar pelo arranjo de fenda, o elétron tem uma forte probabilidade de ir para alguma das franjas claras. Ao cabo de um grande número de observações, todos os pontos das franjas claras serão preenchidos pela chegada de elétrons. Mas qual das franjas cada elétron atinge, numa determinada observação quântica? O matemático John Von Neumann disse que esta pergunta tem apenas uma resposta sensata: “A consciência escolhe – nós escolhemos – onde um elétron vai se manifestar em cada evento". (Von Neumann 1955). Se a consciência é essencial para determinar como se manifesta a realidade, onde foi parar a objetividade (forte) da física clássica? E, se a consciência tem o poder causal de escolher a realidade material, como é possível que ela seja um epifenômeno da matéria? Considere, mais uma vez, o simples quadro hierárquico da consciência que os materialistas nos dão: as partículas elementares formam átomos, os átomos formam moléculas, as moléculas formam células, as células, em última instância, formam o cérebro e o cérebro gera a consciência – uma estrita causação ascendente. O problema com este quadro é que todos os níveis desta hierarquia, desde as partículas elementares até o cérebro, de acordo com a mecânica quântica, continuam sendo ondas de probabilidade. A causação ascendente só pode produzir probabilidades. É necessária uma consciência para causar o colapso da probabilidade “em ato”, por meio daquilo que, é imperioso admitir, é uma causação “descendente”. A consciência não seria capaz de fazer isso se ela própria fosse material, se ela própria fosse composta de probabilidade quântica. Portanto, não apenas a objetividade é invalidade; o monismo materialista está em xeque-mate, pois se a consciência é não-material nem todas as coisas fazem parte do domínio da matéria, como afirmam os dogmas da ciência convencional. E, se a consciência não é produto do cérebro, epifenomenalismo também recebe xeque-mate!

CONCLUSÃO
Se, como postamos no início, a ciência convencional comprometeu a credibilidade das tradições espirituais e as doutrinas a elas associadas, ao fornecer uma outra e viável visão de mundo, realista e materialista, que explica os fenômenos sem se basear em conceitos metafísicos de nenhuma espécies, por outro lado, a física quântica comprometeu a credibilidade da ciência convencional, não só invalidando seus principais dogmas, mas, principalmente, recolocando a consciência como o fundamento de todo o universo e admitindo-a como a base metafísica de um novo paradigma científico: o de uma ciência dentro da consciência.


Autoria:
Breno - O Deísta

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